15 dias depois…

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Algumas conclusões de 15 dias com um bebé pelo mundo:

  •  Também já tenho um filme de terror para contar (iupiiii). Já repararam como sempre que há uma grávida presente, há sempre quem começe a contar histórias de partos dramáticos? Pois é… agora também já tenho a minha historieta sanguinária para abrilhantar jantares e afins onde estejam grávidas presentes. Uma cesariana a ferros (nem sabia que existia tal coisa), uma placenta que resolveu descolar, um bebé que não queria nascer e que teimava em estar agarrado à mãe, uns momentos de grande stress que culminaram com o “bichinho” a sair cá para fora sem chorar (eles choram sempre nos filmes não é?). Resumindo e trocando por miúdos: “o pior parto em 20 anos” , como foi apelidado pela minha obstetra,  o nascimento da bela Francisca.
  • Passou a existir outra mãe para lá da minha… e outro pai também. E isso é estranho, muito estranho. A verdade é que ainda não me habituei totalmente a auto intitular me mãe ou a ouvir as outras pessoas a tratarem me por mãe. Quando oiço mãe, vem-me logo à cabeça a minha mãe. Já disse à Francisca “É a mãe….” mas confesso que foi quase a medo, baixinho, quase como se a qualquer momento ela me fosse desmascarar… “A mãe? Não é nada a mãe, é a Catarina….”.
  • Quer o bebé chore madrugadas fora ou seja um perfeito anjo, mãe que é mãe não dorme nas noites que passa na maternidade. Não, os hospitais não foram feitos para se dormir,desenganem-se se pensam que vão aproveitar as noites na maternidade para descansarem do parto e recuperarem forças para os tempos que se seguirão, quando estiverem em casa sem o “amparo” das enfermeiras e auxiliares. O problema não é o bebé, o problema é mesmo tanta enfermeira e tanta auxiliar pronta a ajudar. Seja noite ou seja dia, esteja o bebé acordado ou a dormir a sono solto, não passa meia hora sem que entre alguém pelo quarto adentro. Seja para trazer chá, para trazer leite, para medir a tensão, para auscultar o bebé, ou simplesmente para perguntar se está tudo bem – sim, chegaram me a a acordar só para perguntar  se estava tudo bem – grrrrrr. Quando me apanhei em casa, três noites depois, exausta e com um bebé anjinho nos braços até julguei que era mentira. Deitei-o no berço e aproveitei, finalmente, para descansar. Longe, bem longe da “ajuda” das enfermeiras e das auxiliares.
  • Com o nascimento de uma filha aprendem-se a fazer lacinhos.  É instantâneo. Ao mesmo tempo que surge um amor enorme pelo pequeno ser e uma alegria esfusiante, aparece também uma capacidade inata para se fazer lacinhos, mesmo que até ao dia do parto, essa fosse uma tarefa hérculea.
  • Parece que toda a vida se mudou fraldas e se vestiu e despiu bebés. Mesmo que só se tenha mudado uma fralda na vida – como tinha sido o meu caso  – e não nos recordemos da última vez – se alguma vez essa vez vez existiu- que trocámos a roupa a um recém nascido. Parece que de repente  uma fada madrinha passou por cima de mim durante a noite, lançou me uns pós de perlimpimpim e no lugar da Catarina- não-percebo-nada-de-bebés surgiu uma Catarina-doutorada-em-puericultura. E já dou por mim a falar de alto, tal mãe presunçosa que conhece os bebés como ninguém.
  • Bebé que passa o dia a soluçar dentro da barriga da mãe, passará o dia a soluçar cá fora também. Rima e é verdade. E não, não é fralda molhada, ou frio, ou o o palpite que quiserem dar. E toda a gente quer dar palpites. É assim e é assim. Não há nada a fazer, a não ser esperar que o diafragma amadureça. Com calma. Que os soluços de um recém nascido enervam mais quem está de fora do que o próprio.
  • Pode-se passar horas a olhar para um recém nascido a dormir e esse parecer o melhor passatempo de sempre. À primeira vista, para quem está de fora, pode parecer quase tão animado como olhar para um aquário com peixes, mas que é maravilhoso é. E não é só para os pais do pequenino ser – avós, tios, primos e afins também se entretém bastante com este novo hobbie, como já foi amplamente verificado in loco.
  • Afinal contra tudo o que sempre me disseram, eu canto bem. Ou pelo menos a minha filha acha. Não sei canções de bebés e nem sei se algum dia saberei, mas que ela se cala quando lhe canto Pedro Abrunhosa, Marisa Monte ou Caetano Veloso lá isso cala-se. Normalmente é durante a mudança de fralda – a moça é uma menina linda que não gosta de estar de perna ao léu. Também já lhe cantei algumas vezes o fado “A menina das tranças pretas” e surtiu efeito.
  • Nunca é demais atascar a despensa e o frigorifico para os tempos que virão. Segundo a Gina Ford, autora de várias “biblias” sobre bebés, os recém papás, devem encher a despensa de bolachas, café  e chá antes do bebé nascer, para terem  o que oferecer às muitas visitas que irão ter no primeiro mês do bebé. No nosso caso, ainda bem que tinhamos o frigorifico e a despensa cheios de queijos, patés, tostas e garrafas de vinho. Cada um tem as visitas que merece. Não é bebé Francisca? Podias ter calhado com outros tios… podias, mas não era a mesma coisa.
  • Finalmente percebi o quanto os meus pais gostam de mim. Livra… como é possível? Agora que tenho uma filha e que me delicio a olhar para ela e a fazer lhe declarações de amor eterno, finalmente percebi que os meus pais não gostam muito de mim, é bem para lá disso, são completamente loucos por mim. Sempre me disseram que só ia compreender os meus pais quando tivesse filhos…. sempre achei que isso queria dizer que iria compreender as chatices que lhes dei, afinal estou a compreender é a forma como me amam. E sim, é um autêntico cliché, mas é mesmo um amor incondicional. De outra forma, como é que poderia ser acordada às 5 da manhã e ainda me levantar da cama com um sorriso na cara, porque já estou cheia de saudades da pequena comilona?
  • Com um bebé recém nascido em casa, uma mãe consegue comer, tomar banho, maquilhar-se etc…. mas só se ao lado de uma mãe houver um pai, uma empregada e um batalhão de avós, tios e primos desejosos de dar biberões, mudar fraldas, embalar e afins. Nunca fui muito adepta da reprodução independente, não porque ache que um filho  precisa de um pai – apesar de também achar – mas porque acima de tudo, acho que a mãe de um filho precisa muito de um ombro e de dois braços e de duas mãos e de  beijinhos e de mimos, muitos mimos. Porque só assim se consegue dar cabo de um bando de hormonas chanfradas que teimam em nos assaltar.
  • Não é porque é minha, mas ela é linda, não é? Não há volta a dar, sempre achei patético os pais não terem olhos na cara para verem que por mais que gostem dos seus filhos, eles podem não ser muito dados à beleza… se calhar vão ser inteligentes, vá, não se pode ser tudo. Mas a verdade é que agora, também eu olho para a minha filha e acho-a linda. Desde o primeiro momento que me a plantaram nos braços, com a boca da Angelina Jolie e as marcas dos ferros pela carinha toda. E mais do que  achá-la linda – não é porque seja minha, não, não é…. – vejo-me agora a quase obrigar as pessoas a concordarem com isso. Ela é linda, não é?

E pronto, por agora estas são algumas das muitas conclusões retiradas em apenas 15 dias que já parecem uma vida. Sim, e ainda me lembro da minha vida anterior ao nascimento da pequena bebé.. e era uma vida boa, muito boa… agora é uma vida diferente, muito boa também. Espero que tão boa para mim como para ela, que agora começou a focar e já nos deita uns olhares penetrantes. Não sei se gosta do que está a começar a ver. Mas nós já gostamos muito. Do que vemos. Do que sentimos. E de a ter no meio de nós.

 

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Blog Comments

A Francisca é uma verdadeira princesa e tem a sorte de fazer parte de uma linda família ( não a conheço pessoalmente mas pelas suas palavras posso tirar essa conclusão ). Parabéns.

Obrigada Maria João, um bjo

É uma pena desperdiçar os anos que fazem parte de uma vida e não haver apelo para a maternidade como muitas mulheres, por puro egocentrismo, proclamam com uma ponta de orgulho. Não vejo que esses desabafos sejam, por vezes sentidos. Haverão, certamente, outras variáveis, para que deitem para fora essas confissões. E é sempre constrangedor saber que não irão nunca, por esse andar, conhecer os momentos e o amor incondicional, a grande paixão…que um nascimento de um bébé nos traz , numa benção de Deus. Celebremos pois, a vinda de uma criança!!!

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