Amanhã faz um ano que nasceste…. e eu não sei muito bem como é que isto aconteceu!!!

Mas estou em crer que se o tempo continuar a passar a este ritmo alucinante, daqui a seis meses, mais coisa, menos coisa, dou por mim com uma adolescente em casa.

É que este ano passou em 2 dias e eu estou hoje tão assustada com esse facto, como estava o ano passado assustada com o facto de ires nascer no dia seguinte.

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É verdade, minha pequena bebé, não vou dourar a pílula, seja lá o que isso for, há um ano atrás não estava propriamente feliz… estava pura e simplesmente apavorada. Adorei estar grávida, nunca me senti tão bonita, tão radiosa e, por incrível que possa parecer, tão elegante. Nem o facto de ter deixado de beber e fumar me enublou esses meses que passaram sem um único enjoo ou contratempo, para além de um sono permanente nos primeiros 3 meses. Ficaram, para mais tarde recordar, as tardes de fim de semana em que o teu pai se ocupava a colocar quadros e a furar as paredes da sala com um berbequim, enquanto eu dormia a sono solto durante horas…na mesma sala.

Foram 9 meses fantásticos, mas no último dia, assim de repente, fui assolada pela sensação de: ” que raio fiz eu à minha vida?”, “dei um tiro no pé”, “estou feita”. E quase que me apetecia fugir de mim própria. E fugir de ti principalmente. E não te deixes convencer pelo sorriso que tenho na foto em cima, tirada mais ou menos 16 horas antes de nasceres. Eu não estava feliz. Eu não estava cheia de vontade que saísses cá para fora. Eu nem tinha qualquer tipo de curiosidade em te conhecer. Eu na realidade o que me apetecia, era estar grávida mais 9 meses no mínimo.

No dia seguinte, dia do teu nascimento, portanto, acordei de manhã cedo, muito cedo, a choramingar e a perguntar ao teu pai… ” E se eu não gosto ela?”. Ao que ele, sábio, me respondeu: “Não te preocupes com isso, vá temos que nos despachar”. Sem dramas, sem stresses. Que para dramas bastava o meu.

Graças a Deus que a animação tomou conta de mim durante um parto que tinha tudo para ser tiro e queda e se transfornou na pior experiência da minha obstreta em 25 anos de carreira. Durante 20 minutos em que tiveste com um pé mais lá do que cá, o humor foi mais forte – sabe-se lá porquê – . E quando finalmente te puseram nos meus braços e eu te acolhi com um “Olá bichinho”, não foi o humor, mas o amor que me atacou irremediavelmente. E as dúvidas e os pânicos evaporaram-se num ápice e a única coisa que senti foi mesmo: “anda cá que és minha e daqui não sais mais”. E ainda assim continuo. E já lá vai um ano.

Durante as primeiras horas não te conseguiram tirar dos meus braços, durante as duas primeiras noites, contigo a meu lado, não consegui pregar olho. Embora tu dormisses que nem um anjo. E assim continuas até hoje.

Eu graças a Deus, voltei a conseguir dormir. Mas ainda não consegui voltar a ser eu. Eu, a Catarina antes de ser mãe. A que não chora por dá aquela palha, que vive com o coração nas mãos e com as mãos coladas a ti. E acredito que nunca o irei voltar a ser.

Tornei-me uma lamechas. Que olha para os outros bebés na rua como se fossem seus. Que chora com o telejornal, a ver filmes estúpidos no You Tube, ou no meio do trânsito com uma balada qualquer dos Michael Bublés desta vida.

Eu não era assim. Eu nem gostava de crianças. Agora venham-me a mim os pequenitos que há sempre um colo – o meu – pronto a acolhê-los. Mesmo aos babados. E repito, eu não era assim. Eu era aquela que durante a gravidez pensou em abastecer-se de luvas cirúrgicas para  conseguir mudar a fralda à filha. Meu amor, minha pequena bebé, deste-me a volta com muita pinta.

Este ano tem sido do caraças. No bom e no menos bom. Não sei se me fizeste crescer nestes últimos 12 meses – como normalmente todas as mães gostam de apregoar – mas sei que só existes porque cresci nos anos anteriores. De outra forma, não te teria recebido como recebi. Com uma facilidade de abdicação e de dávida que não sabia existirem dentro de mim. Com uma aceitação e uma tranquilidade de que não me sabia capaz.

Fizeste-me descobrir-me. Fizeste -me viver paletes de lugares comuns e ao mesmo tempo sentir-me um poço de culpas e remorsos por não me identificar com outros.

Ao contrário do que a maioria das mães adora dizer, não me sinto mais completa, nem vivi o melhor ano da minha vida.  Mas vivi sem dúvida o ano mais especial e inesquecível de sempre.

Não descobri contigo o amor. Mas descobri contigo a paixão à primeira vista.

E contigo descobri também o amor que os meus pais me têm. É impressionante mas mal nasceste foi um baque que me deu, ao pensar: “Meu Deus, o que eu gosto dela é como os meus pais gostam de mim”. E livra, gostam  mesmo muito de mim, constatei.

Contigo descobri a capacidade infinita de ser mais e melhor. Percebi que esta coisa de ser mãe é descobrir forças onde não se sabia existirem. E descobrir fragilidades que nem confessariamos ao nosso melhor amigo.

Nos momentos muito maus, fizeste-me perceber que acima de tudo estás tu e que eu ao pé de ti, não sou nada.

Mas não penses que és tudo. Há vida para além de ti. Mas és muito, muito, muito, muito. E só assim, neste equilíbrio, consigo que aquilo te que dou seja, a maioria das vezes, o melhor de mim.

Não sou perfeita. Porque raio haveria ser uma mãe perfeita?

Amo-te sempre, muito, sem limites, nunca o duvides,  mas há alturas em que preciso de me distanciar para voltar de baterias recarregadas.

E aprendi que isso é possível, só não aprendi ainda é como se consegue viver sem sentir culpa por isso.

Culpa por desejar que vás para cama para eu ter finalmente sossego. Culpa por – às vezes- não estar assim tão desenfreada para te ir buscar depois de teres passado um dia fora. Culpa por, de quando em quando, me apetecer deixar-te para ir jantar fora, beber uns copos com amigos ou ir de férias sozinha com o teu pai.

E mesmo assim és o meu amor. E só não digo único, porque tenho uma família de onde vim  – de onde vieste- e um amor grande pelo homem com quem te concretizei.

És o meu amor. Desde o dia em que te vi pela primeira vez, mas mais hoje do que há um ano. Mas mais hoje do que ontem. E menos do que amanhã. E isso não tem nada haver com o facto de estares gira como tudo, simpática, querida, meiga, inteligente. E ainda por cima és tudo isto, não por seres minha, mas porque assim o és 😉

Amanhã, se Deus quiser, fazes um ano. E eu só peço a Deus que este dia se repita por muitos e muitos anos. Contigo tão perto de mim, como até agora.

Cresce com esse sorriso feliz, pequena bebé, que sejas o que fores, aconteça o que acontecer, podes contar sempre com o meu colo. E colo, um dia irás perceber, meu amor, é o melhor que nos podem dar.

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É mesmo o maior amor do mundo! Lembro-me tão bem da tua cara quando entrei no teu quarto na maternidade…abraçavas a pequena bebé e sorrias para ela como se ela te correspondesse. Estavas apaixonada e eu com uma vontade enorme de a agarrar, mas sentia pela tua expressao que os minutos da pequenina nos teus bracos ainda tinham sido poucos e que nao a querias dar a ninguem

Ui podes querer… naquele momento se me a tirassem virava fera 😉

Minha querida Francisca, foste para mim uma revolução de emoções maravilhosas. És um dos maiores e melhores amores da minha vida. Fizeste renascer de novo o meu lado infantil, que dormia um sono profundo já lá vão 25 anos; e deste forma, som e cor a um querer que só em sonho se tornava realidade. Obrigada meu amor, por teres nascido.

oh que bonitoooooo 😉

Muitos parabéns e muitas felicidades!

obrigada Lúcia um buo

Catarina Serra Lopes, parabéns! Por ti e por esta pequena bebé, que é linda. Ao ler este texto, recordo-me de ti na UAL, e , não te imaginava mãe. Por todos os motivos que mencionaste e por seres “livre”. Por quereres ser do Mundo. E conseguiste. Não te vejo há 15 anos. Mas tens aquela mesma alegria no olhar. Mais uma vez parabéns! E aproveita ao máximo cada momento com essa linda bebé. Porque passa a voar. Sem dares conta. Beijos.

Olá Mónica que bonito, emocionaste me com as tuas palavras. Um grande bjo e espero que esteja tudo bem contigo.

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José Manuel do Nascimento

Hoje, o meu pensamento recuou um ano… ao dia do teu nascimento. Aquele foi um momento único, que me estremeceu e desejei não ter vivido. A tua cabecinha, naquele parto tão difícil, recusava-se a aparecer e, o meu coração saltava do meu peito, de tanto bater. O ambiente pesava e as caras de aflição da médica e do seu grupo, não auguravam nada de bom. Seria possível aquela história terminar sem sequer ter começado ?!

Mas, o teu anjo protetor, não quis colocar o fim naquele começo e deu-te a força de uma guerreira e o milagre da vida…aconteceu…da tua vida, da nossa vida presa à tua.
Passou-se um ano e estás uma bebe linda, meiga e um sorriso do tamanho do mundo.
Minha querida menina, muitos parabéns e que continues a ser a estrela que ilumina o nosso caminho. Beijo-te minha guerreira, Avó Linda

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