Zâmbia – 1º dia

Não há volta a dar, por mais que viaje, por mais que conheça, que visite, que passeei, voltar a África é sempre mágico. Já perdi a conta às vezes que por aqui estive, mas por junto já deve fazer uma soma total de anos.
Dezenas de vezes em Moçambique onde regresso todos os anos por causa dos Padrinhos de Portugal, mês e meio a  a palmilhar de camião e mochilas às costas o Quénia, a Tanzânia, o Malawi a Zâmbia, uma viagem épica de Norte a Sul da Namíbia, atravessando a África do Sul até Cape Town e agora Botswana, para o tão esperado e idealizado Delta do Okavango.
Foram precisas 23 horas de viagem divididas em três voos para aterrarmos finalmente em Livingstone, na Zâmbia, ponto de partida para a nossa aventura.
Mas chegar é sempre um prazer e chegar a África e um prazer superlativo. É a cor da terra, o cheiro, o calor que se agarra ao corpo, as gentes de sorriso largos e gestos mansos, os miúdos de riso fácil e tantos outros lugares comuns… Ou cada vez mais incomuns no mundo actual.

Chegámos e assentámo-nos logo de armas e bagagens no River Club, um lodge criado a partir de uma antiga casa colonial, de 1948, localizado mesmo à beira do rio Zambeze. Uma localização de deixar qualquer um de queixo caído, o toque colonial único, uma decoração exímia, a transportar-nos para outras épocas, África no seu melhor.
Peter, o dono, filho da terra, mas descendente de britânicos, recebe-nos nos de braços abertos, e com simpatia mostra-nos a “sua”  casa.

 

Nasceu em Livingstone e só aos 15 anos foi para Inglaterra, para estudar numa academia militar, andou pelo mundo em campanha durante quase 10 anos, mas o chamamento por África foi mais forte e nos anos 90 voltou à sua terra natal disposto a ficar para sempre.
Comprou esta antiga casa, restauro-a com bom gosto, mantendo a traça antiga, ” não inventando” como salienta, e transformou-a num dos melhores lodges que existe neste momento em Livingstone.
Suficientemente perto das cataratas para proporcionar visitas a estas, mas suficientemente distante para não ter que se estar o dia todo a ouvir o barulho dos helicópteros turísticos a sobrevoá-las.

 

Aliás, sossego é a palavra de ordem no River Club. Os quartos espaçosos com amplas vidraças viradas para o rio, as salas de estar com portadas a dar para o terraços, a piscina que se funde com o Zambeze. Tudo involto num ambiente muito tranquilo, só entrecortado por vezes à noite, pelo barulho dos leões ou dos elefantes que por ali andam. Para lá das vedações electrificadas, entenda-se..

 

Depois de um revigorante mergulho na pisicina e de petiscarmos umas mini sanduíches maravilhosas no chá das cinco – que aqui é às três –  servido diariamente no alpendre, partimos para um cruzeiro pelo rio.
A paisagem é de sonho e mais uma vez o que me corta a respiração para além das cores é a tranquilidade que nos envolve, o silêncio, a brisa suave. Tudo tão belo, tão puro.

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Durante uma hora e meia, até ao pôr-do-sol, percorremos o rio vislumbrando nas margens alguns elefantes, crocodilos, girafas e hipopótamos. Deixo-me embalar ao sabor de um Sauvignon Blanc enquanto tento registar para sempre na minha memória, mais um momento único.

 

Regressamos já noite, a tempo de irmos buscar alguns agasalhos – nesta altura do ano as temperaturas à noite rondam os 10 graus enquanto de dia sobem para os 30- e nos preparamos para o jantar que será servido junto ao alpendre, numa mesa comprida onde se juntam todos os hóspedes com Peter a presidir à mesa.
Para jantar temos a companhia de dois irmãos americanos da Florida, já na casa dos setentas, uma família de pais e filhos provenientes da Índia e descendentes de um marajá e uma viajante solitária, também ela americana, de meia – idade, financeira na Virgínia.
O jantar magnífico – uns calamares picantes acompanhados de abacate, um peito de frango recheado de espinafres acompanhado de uns legumes crocantes, um prato de queijos vários para terminar o copo de tinto sul-africano.

A conversa corre ligeira entre as histórias de Peter, tão ou mais apaixonado por África do que eu, as perguntas em catadupa da financeira da Virgínia e as piadas dos netos do marajá.
Que belo começo para uns dias que se querem sem fim.

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