O segundo dia no Butão começou cedo, as estradas do país são tortuosas, não estivéssemos nós nos Himalaiais, e qualquer viagem de poucas dezenas de quilómetros pode demorar horas.
Antes de partirmos rumo a Punakha, a primeira paragem é ainda em Timphu, no “Budha Point”, o maior Buda sentado do mundo, em construção desde 2008 na encosta de uma das montanhas que rodeia a cidade. Todo feito em bronze, este monumento é uma obra impressionante. E tem uma bonita vista sobre a cidade.
Daqui partimos então para Punakha a 137 km de distância, cerca de 3 horas de viagem por uma estrada curva contra-curva, ora asfalto, ora terra.
Pelo caminho aproveitamos para fazer algumas perguntas a S.T. É incontornável, quando se faz uma pesquisa sobre o Butão a primeira coisa logo que aparece é que este é o País da Felicidade …. Tem um Ministério da Felicidade que assegura que o povo está feliz, quais os seus anseios, as suas necessidades. E S.T. explica ‘”Temos escolas e cuidados de saúde perto de casa, se precisamos de terra para cultivar, o governo dá nós essa terra e os instrumentos necessários, se não temos emprego o governo dá nos um subsídio, mas temos que em troca provar que nos estamos a mexer para melhorar a nossa vida”. Acima de tudo a felicidade é uma filosofia de vida, “se temos dinheiro para comprar um carro óptimo, se não temos não há problema, somos felizes na mesma.” E que bom que deve ser conseguir viver assim.
Claro que tal como S.T. refere toda este modo de vida está intrinsecamente ligado com a religião budista que lhes dá uma serenidade perante a vida, uma paz que dificilmente encontramos noutras religiões.
Tudo trocado por miúdos por aqui o que interessa não é o PIB mas o FIB, Felicidade Interna Bruta, um indicador instituido no Butão em 1972 e que continua a subir desde então, independentemente da economia. ” A felicidade não vem do dinheiro”, diz sabiamente S.T.
A pouco mais de meia hora de caminho passamos pela Dorchula Pass, a 3150 metros de altitude, onde vale a pena parar num dia de céu limpo para ver a bonita vista sobre os Himalaias. Não foi o caso, o nevoeiro era de tal forma, que demo nos contentes por ver o quadro com a vista dos Himalaias 😉
Seguimos caminho e chegamos a Phunakha já em cima da hora de almoço, a tempo de deixar as malas no hotel e comer qualquer coisa no restaurante deste.
S.T. refere-se à gastronomia butanesa, como insípida. “Pouco mais que arroz ao pequeno almoço,nariz ao almoço e arroz ao jantar”, graceja.
Apesar de ter gostado bastante do jantar da véspera, o almoço não deixa muito boas recordações: arroz, pedacinhos de frango caramelizado, “ema” e cogumelos picados.
Partimos logo depois de almoço para um pequeno trekking pela vila de Chimmi, por entre os campos de arroz. S.T. chama-nos a atenção para as fachadas das casas locais decoradas com grandes pénis com lacinhos , símbolo da fertilidade. Há também veados, tigres, leões da neves, águias e dragões, algumas das figuras míticas que fazem parte da história e cultura butanesa.
No fim da caminhada chegamos a Chimmi Lhakhang, um mosteiro construído no século XV. Dizem que os casais aqui abençoados, no ano seguinte têm um bebê e para comprova-lo, dentro do templo S.T. mostra-nos um álbum de fotografias com vários casais, uns asiáticos, muitos ocidentais, com os seus bebés.
À porta do templo, pelos jardins circundantes, ouvem-se dezenas de pequenos monges a orarem. Alguns têm pouco mais de 10, 11 anos, de olhos baixos, concentrados nas suas preces, com as suas vestes bourdeaux e as cabeças rapadas, sinal de despojamento.
Seguimos agora de carro uns quilómetros mais adiante para visitar o Phunaka’s Dzong, que é considerado o Dzong mais bonito do país. Não vi todos mas que este é lindíssimo lá isso é.
À beira rio, majestoso, circundado de jacarandás, imponente. E misterioso, também.
Datado do século XVI foi o segundo Dzong a ser construído no país – Phunaka foi durante 300 anos a capital do Butão – e nele foram coroados todos os reis.
No dia em que o visitamos estão em exposição várias relíquias budistas e as filas de locais são gigantescas. Crianças, mulheres, homens, velhotes, vieram de todo o país para verem alguns dos objectos que pertenceram em tempos a algumas das suas divindades. Todos esperam pacientemente durante horas, sem um protesto, sem enfado, sem sinal de cansaço ou de impaciência. Fico a olhar para eles, simpáticos cruzam o olhar com o meu e sorriem, tenho tanto mas tanto que aprender com esta gente.
S.T. encaminha-nos para uma fila especial e em pouco mais de cinco minutos já estamos dentro do Dzong: “Os turistas são considerados deuses para o Butaneses, têm sempre prioridade”, explica- nos. Aceito, mas não me consigo deixar de sentir envergonhada com tal diferença no trato.
Dentro do Dzong visitamos templos, pátios e as relíquias expostas. Tiramos fotos com locais e pedimos a bênção a vários budas e santos. Em Roma sê romano e a verdade é que dentro destes templos sente-se paz, serenidade, bem estar.
Volto para o hotel já ao final do dia, a sentir-me pelo menos um bocadinho mais abençoada.
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