Olá filha – estranho, mas estranho, tratar te por filha 😉 – este post chega com um dia de atraso, para que comeces já a perceber que o mundo não gira à tua volta – ahahaha, me engana que eu gosto.
Já nasceste há 3 semanas, 3 semanas em que me tornei mãe e tu filha, ambas a aprender o que é que isso na prática quer dizer. Entretanto já retirei mais algumas conclusões do que é isto de andar pelo mundo com um bebé, com o meu bebé:
- Continuas linda. Um dia destes tive que ir tratar de umas coisas durante umas horas e deixei-te em casa. Passei o tempo todo a olhar para dentro dos carrinhos de bebés que passaram por mim e quando cheguei a casa, dei inteira liberdade ao teu pai para que continue a dizer a toda a gente o quão linda és. Para quê fingir, há que tratar as coisas pelos nomes.
- O pediatra deu nos livre trânsito para que passeemos contigo. É o que temos feito. E nem o facto de teres nascido no Inverno mais agreste de que há memória, nos tem demovido. Em três semanas já foste duas vezes jantar fora em noites de temporal, já foste almoçar a Alcácer do Sal num Sábado de chuva, já foste passear para a beira-rio numa manhã ventosa, já te fomos mostrar o mar num dia de alerta vermelho para as zonas costeiras e já estiveste pacatamente a “esplanar” num jardim durante uma tarde que se estendeu até ao anoitecer. No meio de tudo isto tens te entretido a saltar alegremente de colo em colo dos 3500 tios que te têm vindo visitar. Se resistires a tanta suposta bactéria, em princípio creio que estarás pronta para sobreviver a (quase) tudo. Como podes ver estamos a tentar fazer de ti um bebé todo o terreno. Confesso que não tenho muita paciência para bebés florzinhas de estufa, mas se assim fores, obviamente que serás a bebé florzinha de estufa mais querida de todos os tempos. Pelo menos aos meus olhos.
- Toda a gente insiste em dizer que és muito grande… e eu não entendo, os bodies que melhor te ficam são os de tamanho para prematuro, as botinhas caiem te todas dos pés, as mangas dos casacos de malha dão voltas e reviravoltas, as golas das camisas deixam te o decote todo desgargalado e as tuas perninhas desparecem debaixo dos cueiros. Toda a gente insiste em dizer que és grande e eu insisto em dizer que anda tudo muito apressadito. Porque raio é que as pessoas hão-de encher a boca para dizer que o seu bebé de um mês tem tamanho de três? Que o miúdo que ainda mal fez um ano, já veste roupa de quem vai para a escola aprender a ler? E os percentis? Mas que raio sao os percentis? Nao percebo nada de percentis, não faço ideia qual vantagem de estar no percentil 95 em vez de no 25 e embora nao quera ter uma filha enfezada, fico muito contente se com um mês tiveres tamanho de um mês, se com um ano tiveres tamanho de 1 ano e assim sucessivamente. Quero que cresças com calma, nas alturas em que tens que crescer, com o teu tempo que nao há pressa pelo futuro quando se está a curtir tanto o presente. Quero que sejas grande sim, grande de coração, enorme em saúde e com uma felicidade sem medida.
- Ainda estou indecisa se irei fazer aulas de ginástica pós parto ou não. Se por um lado toda a gente me diz que faz muito bem, por outro lado sempre que saio à rua contigo, fico convencida que isso basta para perder os quilos extra e não extra. Na verdade os extra já foram à vida nos primeiros 8 dias… É que é perfeitamente de loucos toda a energia que se gasta a carregar com carrinho, ovo, pôe cinto de segurança, atira malas para o porta bagagens, apanha chucha que caiu no chão, procura babete, fecha as portas, abre as portas, tira cinto, tira ovo, monta rodas, manobra para a esquerda, manobra para a direita… ainda bem que isto é Inverno, quando for Verão então acho que vou ter que sair de biquini, de tal forma fico a suar em bica em cada saída à rua com a pequena bebé.
- No capítulo de saídas à rua, consciencializei me também nestas últimas três semanas, que andar pelas ruas da cidade de Lisboa com um carrinho de bebé, se assemelha a uma prova dos Jogos sem Fronteiras, mas sem o Eládio Clímaco nem a Ana de Sousa. De repente parece que pelas ruas da cidade se multiplicaram os degraus, os buracos monstros, os postes de electricidade, os cócos de cães… mais as portas corta fogo e os elevadores estreitinhos anti-carrinhos. De brandar aos céus.
- Já percebi que os toalhetes não servem apenas para limpar rabinhos de bebés, mas também dão muito jeito para limpar as rodas dos carrinhos dos cocós dos cães. Para isto é que eu não sabia estar guardada ;-(
- Já consegui ir jantar com amigas e deixar a Francisca em casa num “date” com o pai. Toda a gente me diz que só me faz é bem… deveria dizer que sim, para dar um ar emancipado, de mulher dinâmica e cosmopolita, desempoeirada e muito moderna. Mas digo que não. Adoro as minhas amigas, mas já usufruo da companhia da maioria delas há mais de 20 anos. Com a pequenina bebé só estou há 3 semanas. Dá para perceber a diferença temporal? Quando se arranja um namorado novo toda a gente acha perfeitamente normal que se desapareça durante uns tempos. Quando se arranja um bebé novo, se cometemos o pecado de nos dedicarmos durante uns tempos a babar para dentro do berço, ai que já somos umas retrógradas acéfalas, antiquadas, com perfil de dona de casa.
- Acho que as hormonas finalmente estão a passar, já consigo aumentar a dose de leite no biberon sem chorar com pena do bebé pequenino que aos poucos está a deixar de ser assim tão pequenino.
- Passas o dia a sorrir. Dizem me que não são sorrisos, são reflexos. E eu espero bem que sejam mesmo isso. Reflexos da felicidade com que nasceste. É o que mais peço -a par de saúde – que tenhas nascido com muita felicidade dentro de ti. Que não a procures nos outros ou naquilo que possas vir a ter. Que não a procures no exterior, mas que a encontres sempre no teu interior. Que tenhas a capacidade de ser feliz com muito pouco, de te rires de tudo e de nada, de fazeres do som das tuas gargalhadas a banda sonora da tua vida. Continua a sorrir minha filha. Sempre.
Blog Comments
Isabel Catarino
19 de Fevereiro de 2014 at 22:48
Catarina, há longo tempo que conheço o teu trabalho sobre viagens, e há 4 anos o trabalho dos Padrinhos de Portugal. Sempre achei que tens mesmo “queda” para a escrita, mas este foi sem dúvida o teu melhor texto de sempre. Guarda-o bem que por certo a Francisca vai gostar de o ler. Bjnhos
pelomundo13
20 de Fevereiro de 2014 at 10:41
Obrigada Isabel, a Francisca inspira me 😉 um bjo
José Manuel do Nascimento
21 de Fevereiro de 2014 at 16:16
O que hei-de dizer, depois de ler esta explosão de sentimentos, tão terna, impregnada de todos os afectos que nos fazem estremecer de felicidade, quando sentimos que um pequeno ser é nosso… muito nosso. Quando depois do primeiro impacto do nascimento,ficamos a olhar para aquela pequena coisa que vai transformar,por completo, a nossa vida; jamais seremos a mesma pessoa. Sentir-nos-emos mais completas,mais conscientes…melhores pessoas e muito, muito mais felizes.
Eu, sinto- me, duplamente, feliz, por ter a sorte de ser Mãe da Catarina e Avó da nossa querida Francisca. Que a nossa felicidade, prossiga no tempo…
pelomundo13
21 de Fevereiro de 2014 at 22:37
…e vai prosseguir se Deus quiser. bjs mãezinha
Dina Silva Brito Diogo Palma
26 de Fevereiro de 2014 at 17:35
Minha querida Catarina, fico muito feliz por vocês terem uma filha linda e estarem a apreciar cada momento da vida da vossa Francisca. Realmente é uma fase maravilhosa , se estivermos despertos para estes acontecimentos. Eu, também sou mãe há 5 meses e meio da Maria Rita e revejo-me em vários episódios que descreveste, acho que a Francisca fica com um belo resumo de vida das suas 3 primeiras semanas neste mundo. Adorei!. Um beijinho da tia Dina
Maria José Martins Mendes
12 de Março de 2014 at 14:47
Sem palavras… apenas linda mensagem e que assino na integra!!! Bjitos ♥ e Felicidades para essa linda família.