4 º dia nas ilhas Eólicas : Salina

Nem todos os dias que começam com um mergulho no mar, num dia de sol e calor, no meio de um cenário paradisíaco, tem tudo para acabar bem.

Também é preciso sorte e prudência e de preferência as duas juntas. O que não aconteceu. Mas começando pelo principio, o dia começou com um mergulho ao largo de Panarea. Na ida para Salina, excitação geral a bordo quando o F. pesca um senhor atum, bicho de 10 kgs ao mais que é retirado do mar a custo. Fábio, o skipper, e o nosso amigo A. juntam-se e  entre todos, esventram o peixe, retiram -he as ovas, as tripas e arranjam-no para futuros repastos.  Confesso que para mim não é um espectáculo bonito de se ver. Mas como adoro atum, deixo-me de armar em protectora dos animais e olho para a paisagem enquanto antecipo o belo do sashimi que o espécime dará.

 

 

O dia está quente, muito quente e chegamos a Salina já quase final da manhã. Esta é a ilha conhecida pelo vinho Malvasia, um vinho licoroso aqui cultivado, pelas alcaparras, que também nascem por todos os cantos da ilha, e pelo filme, “O Carteiro de Pablo Neruda” aqui filmado em 1995.

 

 

Mal chegamos ao porto, saímos borda fora para um passeio pela ilha. Nem de propósito, a curtos passos de distância um rent a car tem 4 pequenos triciclos motorizados para alugar. Eu odeio motas, odeio correr riscos desnecessários, não sou minimamente afoita, mas sabe-se lá porquê, no calor do momento, parece-nos a todos uma boa ideia e quando dou por mim já estou a bordo. Cada casal no seu, capacete não é preciso, cintos de segurança estragados mas também o  que é que isso interessa e lá vamos nós estrada fora.

 

 

100 metros depois já estou arrependida, “mas que ideia tão estúpida” vocifero para mim própria quando me apercebo da instabilidade da “coisa”.

Mas não foi preciso muito para a sentirmos na pele. Logo na primeira curva, o A e a M. capotam. Ambos estatelados no chão, vidro partido, perna da M. esfolada, mão e braço em carne viva. Gasolina derramada pela estrada fora. Paramos logo de seguida e tudo o que segue é um atropelo. Alguém pará para dar boleia ao A. e à M. rumo para ao posto de saúde, eu resolvo regressar à vila a pé, os restantes para o rent -a-car devolver os belos dos triciclos.

A ilha não tem hospital, não tem raio x, mas tem um médico italiano com um sorriso magnifico, Giovanni,  que infelizmente não acalma as dores da M. que estoicamente enfrenta o infortúnio sem um ai.

 

 

Passamos o resto da manhã entre o “posto de saúde”, onde a M. permanece a soro e morfina, e o rent-a car onde querem que paguemos os danos. O calor aumenta e os ânimos também. Giovanni acha que é melhor a M. apanhar o ferry para a ilha de Lipari para ser vista no hospital. O F. acha que é melhor ir até à policia fazer queixa do rent-a car. O L. entretanto acha que o melhor é aproveitar-se o tempo para ir comprando umas coisinhas na mercearia local para acompanhar o belo do atum pescado.

 

 

Tudo termina com um saco cheio de iguarias, a M. a ir de cadeira de rodas para o cais de embarque e o R. a receber uma garrafa de oferta de Malvasia do dono do rent-a-car.

 

 

 

Cansados, enervados, preocupados, resolvemos dadas as horas e o calor, rumarmos até ao terraço fresquinho do restaurante Nni Lausta onde nos consolamos de uma manhã de infortúnio com umas beringelas recheadas, umas anchovas e umas pastas à la Norma.

 

 

Há coisas que nos sabem pela vida e este almoço e o telefonema da M. do hospital de Lipari a dar-nos a boa nova que não tem nada partido, são duas delas.

Já mais animados, resolvemos alugar uma carripana e ir dar uma volta à ilha.

Seguimos ao longo da costa por uma estrada estreitinha que serpenteia curva e contra curva. Passamos por Capo Faro onde há um hotel, uma vinha e um restaurante, ao que dizem, muito bom.
Seguimos para Malfa, no Norte da ilha. Ao longo da estrada vamos parando por minutos em alguns miradouros para apreciar a vista linda. Em Malfa, uma pequena vilazinha, fica aquela que é considerada a praia mais bonita da ilha, Punta di Scario. A cor da água é única. Único senão, a longa escadaria que dá acesso à praia. São cerca de 15 minutos a descer. E o dobro a subir 😉

 

 

Ficamos a admirar as vistas cá de cima que o calor não se compadece com grandes caminhadas e seguimos para Pollara, vilazinha perdida do mundo que se popularizou quando aqui foi gravado o filme O Carteiro de Pablo Neruda. Hoje em dia a casa de Pablo é propriedade privada e não se pode passar do portão.

 

 

Regressamos a Santa Marina Salina, vila principal da ilha, onde ficamos atracados para passar a noite.
A vila é engraçada, o largo da igreja, as pequenas ruelas cheia de lojinhas de colares, túnicas e afins, restaurantes com óptimo ar. Cheira a vila de Verão, de noites quentes e jantares longos sob céu estrelado.

 

Já ao final do dia, M. e A. regressam de Lipari e são recebidos em braços. L. lança-se a preparar uns “Aperol spritzer” e terminamos ainda com uns brindes que a M. não é moça de se ir abaixo nem com um braço ao peito 😉

Não fixo o nome da Tratoria onde jantamos, um terraço grande, comida nada de especial, o que é uma raridade em Itália.
Por aqui ficamos esta noite, depois de um dia com demasiadas aventuras. Viajar também pode ser isto. O bom, o mau, o imprevisto. Salve- se o sorriso giro do médico Giovanni que tão bem tratou da nossa querida M.

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