Não, não é para fazer inveja… mas da India, fui para as Maldivas… foi assim em finais de Novembro, há 3 anos atrás…mas parece que foi ontem e por mim podia ser já amanhã…
As ilhas que um Deus criou
São de deixar qualquer pessoa de boca aberta. A sua magia está bastante além dos coqueiros, da areia branca, do mar esmeralda. Catarina Serra Lopes esteve lá e durante uma semana andou de barco, hidroavião, comeu caranguejo e lagosta, mergulhou com tartarugas, mantas, raias e tubarões. E confirmou: as Maldivas são acima de tudo mais do que se pode imaginar. Não basta ler e sonhar, é preciso ir.
Seja Maomé, Jesus Cristo, Buda, Alá ou Shiva, a verdade é que mal se aterra nas Maldivas, fica-se com a certeza absoluta que esta é uma terra que só pode ter sido criada por mão divina.
E mais não é preciso dizer. Aliás, todas as palavras são vagas, é preciso ver para crer. Goste-se ou não de destinos de praia, cocktails à sombra de palmeiras verdejantes, águas tépidas pintadas a lápis de cor, casais a passear à beira-mar, vestidos de linho branco, veleiros a rumar ao pôr-do-sol ao som de brindes de champanhe.
As Maldivas são as Maldivas e o resto é o resto. Para além de clichés e de bilhetes postal. Entendido isto, estamos prontos para aterrar. E logo para começar, nas Maldivas a própria aterragem é “sui generis”. Um quarto de hora antes, em pleno avião, já não há nenhum passageiro que esteja entretido a conversar, a ler ou a dormitar. Todas as atenções estão concentradas na vista que as pequenas janelas da cabine revelam. Dezenas, centenas de pequenas ilhas, a perder de vista, todas rodeadas de recifes de corais e de um mar com uma paleta de cores que vai do azul turquesa ao verde esmeralda (prometo que não vou escrever mais sobre a cor do mar, mas que é lindo, é). À medida que nos aproximamos da pista vão se tornando cada vez mais sonoras os “ahhhhhh” e “ohhhhh”. A perplexidade aumenta quando nos deparamos com o próprio do aeroporto. Construído ao lado da ilha de Malé, capital das Maldivas, todo ele ocupa por si só uma pequena ilhota.
Para além dos grandes aviões que aterram aqui, vindos um pouco de todo o mundo – desde os anos 70 que este é um dos destinos turísticos mais idílicos e exclusivos do planeta – , a maioria dos “hangares” do aeroporto são ocupados por pequenos hidroaviões.
As Maldivas têm no total 19 atois – ilhas em forma de anel que no seu interior têm uma lagoa – espalhados por um território com um total de 823 quilómetros de comprimento e 130 de largura. Em pleno mar do Índico, a Sul da Índia. Se algumas das ilhas são acessíveis por barco, a grande maioria fica tão distante do aeroporto internacional que o acesso é por hidroavião. Dez passageiros no máximo, piloto de calções e t–shirt. Não há colares de flores a serem distribuídos à entrada, mas quase. A onda é muito descontraída.
Durante a meia hora do voo o comissário entretém-se a debitar dados e datas: “As Maldivas têm cerca de 1200 ilhas das quais só 100 são habitadas. A população é de cerca de 369 mil habitantes. A única religião é a muçulmana e a língua oficial é o Dhivehi, embora a maioria das pessoas fale também inglês. As Maldivas são habitadas acerca de 2000 anos, mas depois de terem sido dominadas pelos Britânicos durante 8 décadas, conquistaram a sua independencia em 1965….”
Ninguém o ouve, todos os passageiros vão de testa colada ao vidro, estupefactos perante o cenário.
Primeira paragem, Mirihi Island, na parte sul do Ari Atol, considerada uma das melhores zonas das Maldivas para os fãs do mergulho.
Christoph, jovem alemão, director do hotel, faz as honras da casa. É alto, louro, de tez bronzeada. Recebe os hóspedes vestido de calções e pés descalços. Aliás, quem for para o Mirihi o melhor é esquecer os sapatos. Da recepção, aos restaurantes todo o chão é areia. Menos nos quartos, palafitas alinhadas em cima do mar, com grandes terraços com acesso directo à água.
Nas Maldivas há perto de uma centena de “resorts”, cada um com a sua identidade e o seu público alvo. No Mirihi, o destaque vai para “o facto de ser um pequeno boutique hotel, com apenas 36 quartos.” Onde não há televisão, “mas Ipods com milhares de músicas de vários genéros e um um mini bar personalizado ao gosto de cada cliente”, explica Christoph. “Não há dezenas de restaurante e bares, mas apenas dois restaurantes que servem um menú diferente a cada sete dias e um bar que está aberto até ao último cliente se ir deitar.”
Outra das mais valias do Mirihi? O seu guia de mergulho, Hassam, filho da nação e um dos “dive masters” mais experientes das Maldivas. De sorriso largo confessa já ter 22 anos de experiência e mais de 10 mil mergulhos. Vem de Malé, capital, “onde os turistas só param para matar algum tempo enquanto fazem escala”, mas durante as últimas décadas tem passado por vários resorts. Desde 2002 que a sua casa é o Mirihi, onde passa os dias a mostrar aos clientes mergulhadores, os 42 “spots” que existem em redor.
“A maioria são casais alemães e suíços, de meia-idade, a celebrarem um novo amor, um novo casamento, mas também há pessoas mais velhascomo uma senhora que tinha 92 anos, tinha tirado o curso com 72 anos e já tinha feito desde então cerca de 100 mergulhos. Foi muito engraçado mergulhar com ela”, conta Hassam.
E aproveita para revelar outra história engraçada: “Sabe porque é que há muitos naturais das Maldivas com olhos verdes? É porque no século XVII, foram os portugueses que dominaram este país e segundo o que se conta, fartaram-se de acasalar com as indígenas”, conta entre gargalhadas.
Boa disposição e muitas actividades ( para aqueles que querem fazer mais do que passar uma semana com os pés dentro de água a lançar olhares lânguidos para a sua cara metade), são aliás duas coisas que não faltam por aqui. Para lá do mergulho, o Mirihi organiza saídas para a pesca, pequeno-almoço na praia, passeios pelas ilhas em redor, cursos de cozinha, provas de vinhos, cruzeiros ao pôr-do-sol.
Com uma atmosfera completamente diferente, o “lodge” W, filho jovem e irreverente da cadeia Starwood, é a paragem que se segue. Fica também no Ari Atol, mas no Norte. No hidroavião, exclusivamente ocupado por hóspedes deste “lodge”, é fácil perceber o público alvo que o W atinge. Elas têm ar de modelos, eles de músicos ou actores. Todos muito jovens, muito giros, muito frescos, acabados de sair de um anúncio a iogurtes ou a cereais com propriedades dietéticas.
Logo à chegada, o “staff “ do hotel alinhado junto ao cais saúda os recém-chegados. Estão todos vestidos de branco, de cabelos (propositadamente) desalinhados, óculos escuros, pose à estrela de rock. “O W mais do que uma marca é um conceito”, explica Rose, a directora de marketing. Como lema: “ Tudo o que quiser, onde quiser…desde que seja legal.”
Para não variar também aqui os quartos são em palafitas em cima da água.. Cada um tem a sua piscina privada com jacuzzi, zona “lounge” e acesso directo ao mar. É fácil ver passar um tubarão bebé, uma tartaruga ou uma raia mesmo à porta da cabana.
Uma curiosidade: não se vê praticamente ninguém nos espaços comuns da ilha durante o dia. A maioria são casais em lua de mel e tudo está concebido para que a privacidade seja preservada. Há quem vá mergulhar com tubarões, há quem faça snorkelling no “house reef” à volta do “lodge”, há quem parta para um almoço a dois na ilha deserta em frente, há quem faça uma massagem no spa, uma aula de yoga no deck sobre o mar, uma sessão de meditação na praia ao pôr-do-sol, uma viagem de Dhoni (embarcação local) rumo ao horizonte.
Só à noite nos restaurantes, no bar e na discoteca, se percebe que o “lodge” está cheio. Bebe-se champanhe, come-se lagosta, caranguejo, sushi, bife Kobe. À luz das velas. Dança-se até de manhã…As noites são quentes e (na sua maioria) estreladas. A imaginação é o limite. Tudo é possível nas Maldivas. Até ser feliz. Muito.
Como ir
A British Airways voa de Lisboa para Malé com tarifas a partir dos 900 euros. Escala de uma noite em Londres.
Do Porto para Malé a tarifa sobe para 1190 euros e as ligações disponíveis são Lisboa – Madrid pela TAP e depois Madrid –Malé pela Qatar Airlines.
Onde ficar
Mirih Island – www.mirihi.com. Quarto duplo a partir de 690 euros com direito a meia pensão.
W – www.wretreatmaldives.us. Quarto duplo a partir de 800 euros com direito a meia pensão.
Quando ir
As Maldivas têm tempo quente durante todo o ano. Normalmente a água anda à volta dos 27 º. Em Junho e Julho é a época das chuvas, embora todo o ano se possa apanhar chuvas tropicais.
Reportagem originalmente publicada no Fugas, do jornal Público.
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