Pode parecer um cérebro. Noutro ângulo, talvez se assemelhe a um caracol. A grande estrutura em cartão, iluminada, é suposto ser uma lâmpada em ponto grande mas, na verdade, pode ser tudo aquilo que quiser, desde que seja a imaginação a ditar as regras. O que importa é que se acenda uma luz. Falamos do interruptor que alguns têm mais apurado dentro de si mesmos, do momento de epifania que sentimos quando uma está mesmo, mesmo, mesmo prestes a nascer… falamos da ideia. Um conceito bastante amplo que pode tomar diferentes formas, uma moldura, um relógio ou até um simples prato. A Mona é uma autêntica cabeça a cem à hora, a nova loja da Rua das Janelas Verdes, em Lisboa, onde nas paredes e nas prateleiras só há surpresas.
“Queríamos recriar aquelas grandes lojas da Tate ou do Louvre e tirar aquelas peças que são meramente decorativas. Queríamos que o conteúdo se sobrepusesse à forma. Criámos a Mona, tudo o que sai da cabeça.” Nuno Cardoso fala-nos enquanto caminhamos a curtos passos: é difícil desviar o olhar dos objectos. O publicitário de 43 anos e a mulher, Patrícia Nunes Pedro, de 42, já eram proprietários do espaço. Vivem no mesmo prédio, no piso de cima e até há pouco tempo alugavam o espaço a outras empresas. Mas tinham vontade de agarrar um projecto com as próprias mãos: “Houve uma altura em que percebemos que estava na hora de valorizar e comercializar as ideias”. Ideias. A palavra que se vai multiplicar pelas colunas deste texto não é culpa de um milagre mas da própria Mona.
E por falar em ideias, porque não anotá-las antes que fujam: em guardanapos que já vêm com lápis ou num caderno com folhas com textura, daquelas que costumam cobrir as mesas das tascas. Aqui, até copos de cartão o podem fazer sorrir, têm narizes desenhados para que ver alguém a beber se torne parte da festa. Entre as coisas simples, do dia-a-dia, que nesta casa ganham um twist, há ainda os produtos da própria Mona. Como os lápis que são “not from Guggenheim”ou “not from Louvre” e ainda as T-shirts com poderes especiais: “Fabricada com algodão apanhado pelos alunos das melhores universidades do mundo, ao som de Mozart, esta T-shirt pode estimular a actividade cerebral se for despedida de forma lenta e insinuante.”
“Não são somos uma loja de gifts”, avisa-nos Nuno, interrompendo o passeio. O criativo chegou a pensar que podia ser jornalista mas rapidamente se viu em marcha rápida no mundo da publicidade e hoje até tem uma agência própria, a Nossa. Já Patrícia, trabalhava na Fundação Calouste Gulbenkian e agora dedica-se a tempo inteiro à Mona. Ambos ligados à comunicação e à arte fazem da Mona o local onde o útil se junta ao agradável. Fazer a triagem para o que devem incluir na loja é o mais difícil, contam-nos. Afinal, o que é uma boa ideia?
NAS PAREDES Numa tela também pode caber a surpresa e a inovação. Por isso é que a Mona conta com exposições temporárias. Os quadros em impressão digital, onde o texto se alia às ilustrações, é da responsabilidade de Rui Simões, um criativo que pediu a vários artistas para ilustrarem as suas palavras – peças para levar para casa entre os 150€ e os 400€. Já ao fundo do espaço é possível encontrar três cartas em ponto grande com retratos em Rotring de jogatanas no Jardim da Parada. O projecto de Marco Dias também está à venda, desde 1400€. Este é também o espaço para divulgar o trabalho de fotógrafos, realizadores ou directores de arte que têm ideias só que lhes faltam sítios para as mostrar aos outros.
Regressemos à grande estrutura em cartão montada ao centro. Em cada divisória há uma ou duas peças, para manter o ambiente limpo e valorizar os objectos. Nuno chama-nos a atenção para um piaçaba diferente para segurar clips, canetas ou apontamentos: “A história de um piaçaba que subiu na vida e deixou o WC para ser empregado de escritório.” A peça é de autoria de um artista português, Nuno Vasa, que aqui apresenta ainda um estendal que veio para dentro de casa e serve de cabide e um balde que tem luz em vez de água para iluminar uma sala por 95€. Mas a prioridade não é o nacional: “Se tivéssemos milhares de produtos criados em Portugal era um orgulho mas também não vejo que seja a coisa mais importante. Aqui promovem-se as ideias, sejam portuguesas ou estrangeiras.”
É ainda possível encontrar livros relacionados com arte e design, auriculares com passarinhos para nos cantar aos ouvidos ali, acolá um garfo em forma de avião, o AirFork One para ajudar os miúdos a comer por 16,40€. “A casa que os Maias vieram a habitar em Lisboa, no Outono de 1875, era conhecida em todo o bairro das Janelas Verdes.” As palavras estão dactilografadas numa folha impecável, ainda encaixada numa Olympia cor de musgo. Nem tudo está à venda nos pequenos cubículos, há destas preciosidades que se intercalam com o resto. A máquina de escrever antiga era do avô de Nuno, na altura em que andava na quarta classe. Ao mesmo grupo de coisas herdadas se junta o rádio castanho escuro ou a Kodak empoleirada em livros, uma Brownie 127.
O design mistura-se com a arte, a loja com a galeria, e as ideias é que saltam à vista no meio do imbróglio. Nuno garante que o mercado é pequeno mas apreciado. E quem anda quilómetros para visitar um restaurante também pode fazer a mesma distância para matar a fome de ideias, palavra de criativo: “Os que gostam, procuram mesmo.”
Rua das Janelas Verdes nº 70, Lisboa.
De segunda a sábado, das 11h00 às 19h00.”
Texto publicado no jornal I.
Blog Comments
José Nascimento
3 de Janeiro de 2014 at 23:13
Fiquei muito curioso em conhecer o espaço onde existem tantas coisas, tão à frente. onde ficaremos , decerto, com a perplexidade das crianças, sentindo-nos, de novo na idade dos porquês. É um local onde irei e vou trazer ideias muito interessantes, estou certo.