Um mês com um bebé pelo mundo…por este mundo… que durante este mês de Fevereiro resumiu-se a pouco mais do que Lisboa e (poucos) arredores. E não me queixo. Nada mesmo. Antes pelo contrário. Este mundo de agora é diferente – recheado de conversas sobre cocós e afins -, mas é bem giro (ainda estou na fase do encantamento ok?).
Embora me lembre perfeitamente da minha vida passada. Sim, lembro me perfeitamente da minha vida passada e embora não chore pelos cantos com saudades desses tempos – mas ainda bem que eles existiram durante muitos anos e bons-, não sou daquelas mães que de repente se vê com um rebento nos braços e apregoa aos sete ventos que já nem se lembra da vida antes de dar à luz, que nunca se sentiu tão completa, tão inteira, tão realizada…
Minha querida bebé fazes hoje um mês e embora eu não possa estar mais feliz do que estou por ter te no meio de nós, continuo a lembrar me perfeitamente da vida que tinha antes de nasceres – envolvia muitas viagens, muitos jantares, muitas noitadas e afins -, e era uma vida boa. E sentia me completa. E fora um dia ou outro de neura laboral, até me sentia realizada. E inteira. Sim, também me sentia inteira. E mulher. Não precisava de um filho para me sentir mulher. Acho mesmo que não precisava de ti para nada em especial. Não vieste tapar buracos, colmatar perdas pessoais ou resolver traumas ou insatisfações. Não vieste para dar brilho aos meus dias. Mas desde que nasceste que foram 30 dias brilhantes lá isso foram.
Também não vieste para melhorar o relacionamento entre mim e o teu pai – ainda alguém no seu perfeito juízo acha que um filho melhora as relações amorosas?- , preencher qualquer vazio afectivo, ou para fortalecer a nossa ligação. Vieste do nosso amor, do nosso grande amor. Não vieste para lhe dar sentido ou para lhe assegurar a continuação, mas para partilhá-lo connosco.
Não te quero retirar qualquer importância, pequena bebé, não quero é sobrecarregar te com um peso que não tens e que nenhum bebé deveria ter. Vieste a este mundo apenas por uma razão: porque o quisemos. Eu e o teu pai. Apenas por isso e isso já é tanto.Fazes hoje um mês e eu quero acreditar que tens uma vida linda à tua frente. Tanta coisa para descobrires, para viveres. Tens uns olhos enormes e muito vivos… com os quais eu quero crer que irás absorver o mundo. Gostava de te saber curiosa, aventureira, destemida. Gostava de te saber amiga do teu amigo, lutadora e perseverante, grata e honesta, verdadeira e bondosa.
Gostava de te saber…
Apaixonada pelos teus pais, pela tua família de origem e pela tua família emprestada. Que sejas sempre merecedora do amor com que foste recebida neste mundo. Sabes pequena bebé, desde que nasceste que tens dezenas e dezenas de pessoas loucas por ti? E que esta casa – a tua casa – mais parece o metro em hora de ponta, tal o entra e sai de gente que te quer conhecer, embalar, mimar?
Gostava de te saber…
Capaz de te entregares… a causas, a pessoas, a sonhos e a realidades. De te dares aos outros, de seres humana, que não basta sermos um ser. Que não somos nada se não nos dermos. Que nunca conseguirás ser alguém se não tiveres o dom de conseguir olhar à volta. E se não perceberes que olhar e ver, não são sinónimos mas sim complementos.
Gostava de te saber…
Com a capacidade de te apaixonares. Perdidamente. Sem sentido e sem razão. Sem medos, sem jogos, sem falsidades. Para sempre. Como só assim vale a pena. Mas que também tenhas a força e o discernimento para dizeres adeus a quem não se apaixone na mesma medida por ti.
Gostava de te saber…
Inteligente, culta, mas também desportista, viva, não te quero rato de biblioteca, nem um pequeno Mozart sobredotado, longe da realidade dos joelhos esfolados e das mãos sujas de terra. Quero te sim feliz de dedos lambuzados e água a sair preta no banho… de tanta brincadeira.
Gostava de te saber…
Apreciadora dos prazeres da vida, de umas belas sardinhas assadas com salada de pimentos, de uma caipirinha ao final de uma tarde de Verão, de uns croquetes com arroz de tomate, de comida indiana e tailandesa, de um tinto do Dão, de um bom cozido à portuguesa e de um bacalhau com todos, que Portugal é a tua pátria e por mais que o mundo seja a tua casa, não vais conhecer nunca uma cidade mais bonita que Lisboa, nem um país que te encha tanto o coração como o teu.
Gostava de te saber…
Bem disposta, alegre, extrovertida, de bem com a vida, uma pessoa de fé, em si, nos outros e em Deus – seja ele qual for -, amável e afável, sonhadora mas realista, imperfeita nos detalhes, que a História faz-se de heróis mas as mais belas histórias fazem-se de seres normais, com as suas virtudes e os seus defeitos.
Hoje fazes um mês de vida, pequena bebé… e eu gostava que um dia fosses tudo isto e mais um pouco… com a certeza porém, que mesmo que não sejas nada disto e tudo o resto, continuarás mesmo assim a ser única para mim . A minha filha. Aquela que um dia teve uns mini pés cor-de-rosa que cabiam dentro das minhas mãos.
Blog Comments
José Manuel do Nascimento
1 de Março de 2014 at 12:44
Que texto inspirado e inspirador. Desabafos sentidos que… só uma Mãe entende, por ser exactamente uma Mãe. Conseguiste com “ele”fazer-me brotar algumas lágrimas, lágrimas de emoção e felicidade, vibrando com os lindos sonhos que gostavas se tornassem realidade. Junto-me a ti e desejo também que a vida desta linda menina seja pautada por tudo aquilo que for melhor tirar deste mundo. Que a sua viagem através desta vida seja boa, bela e verdadeira.
Avó
NFilipa
2 de Março de 2014 at 23:11
Inspirador!
Que belo resumo do meu sentimento relativamente a filhos, muito obrigado pelas suas palavras.