Polónia: 1º Dia – Varsóvia

E lá fui eu passar quatro dias à Polónia. Já tinha ouvido falar muito bem e muito mal – normalmente mal de Varsóvia e bem de Cracóvia -e  resolvi ir e ver para crer. No geral gostei bastante e foram 4 dias que pareceram 15. Desta vez resolvemos ir sem a pequena bebé para a poupar de muito frio e de mais três viagens de avião. Está numa idade em que precisa é de espaço para gatinhar e não de estar a ver monumentos. E nós também precisamos às vezes de uns diazinhos longe de fraldas e biberões.

Mas vamos lá é arrancar com a Polónia e começando pelo começo (passo a redundância) ;-), aqui vamos nós, primeira paragem Varsóvia:

É o bom de ter expectativas baixas… Como aterrei em Varsóvia depois de meio mundo me ter dito que a cidade era horrível, acabei por achar que até é uma cidade com alguma piada. Ou melhor dizendo, embora grande parte da cidade seja constituída por bairros de arquitectura soviética, com os seus blocos de apartamentos cinzentos, de janelinhas pequenas, todos iguais, Varsóvia tem um centro histórico pequeno mas muito giro.
Totalmente destruída aquando a segunda guerra mundial, o centro da cidade cidade foi sendo reconstruído aos poucos e o que hoje vemos é uma réplica fiel do antigamente, com a sua praça central e os seus edifícios com arquitectura do século XVII  e XVIII.
O Castelo Real, em estilo barroco, foi o que foi reconstruído mais tarde, os trabalhos começaram apenas em 1971 e foram concluídos em 1984.
É por aqui que começa a minha visita a Varsóvia, ou melhor, pela “Royal Route” , a avenida que vai do palácio presidencial ao castelo. É uma bonita alameda, ladeada de edifícios de traça antiga, que nos últimos anos foram sendo ocupados por cafés acolhedores, galerias de arte e  lojinhas ecléticas.


Depois do palácio real, aproveitei para visitar a catedral, considerada a igreja mais antiga de Vársovia. Foi construída pela primeira vez no século XIV  e pela segunda vez em 1956. E que impressão isto faz… Pensar neste povo sofrido que depois de ter estado sob o jugo dos nazis e de ter conseguido renascer das cinzas ainda cai no jugo dos soviéticos durante mais três décadas.

Talvez (só por isso) acabe por lhes desculpar a pouca simpatia, o ar carrancudo, as palavras parcas. As miúdas até são giras, mas na sua maioria, de semblante fechado.
Da catedral desemboquei na praça central, de traçado medieval, semelhante a tantas outras praças europeias – menos sumptuosa que a de Bruges, com menos vida que a de Salamanca, menos impactante que a de Bruxelas – mas também ladeada de bistrots, restaurantes e barezinhos.
Daqui segui até as muralhas da cidade, por ruelas empedradas. Quatro da tarde e em Varsóvia já é noite escura. E chove. E está friozinho.
Refugiamo-nos no Celibar a beber um copo de Merlot e a petiscar umas “pierogis”, um tipo de pastéis polacos – entre os dumplings e os raviolis –  cujo recheio pode ser tão variado como carne picada, queijo, batata e cebola, couves e cogumelos, morangos ou frutos silvestres.
Pedimos com espinafres, vêm bons mas um pouco gordurosos para o meu gosto. Fica a promessa de voltar a provar noutro sítio, para ver se a culpa é dos “pierogis” ou do cozinheiro.

Mais recompostos prosseguimos a visita pela cidade, optamos por seguir a pé, apesar das ruas serem do mais mal iluminado que há memória, mas ainda pior é o trânsito. Parado, paradinho. Explicam-nos que por aqui se começa a trabalhar as 8h00 e se termina ás 16h00, dai já ser hora de ponta.
A par do centro histórico e dos bairros estalinistas que o rodeiam, o bairro financeiro, a Sul, é desde há uma década uma profusão de arranha-céus e centros comerciais, onde não faltam as principais cadeias internacionais, das Zaras e Berskas até a um Hardrock Cafe.
É aqui também que fica o Palácio da Cultura e da Ciência e que, talvez por ter sido um presente soviético, é o edifício mais odiado pelos polacos. E também o mais alto do país. Dizem que do seu terraço panorâmico se tem uma vista fantástica sobre a cidade. Fica para a próxima, a chuva e o nevoeiro não permitiram que subissemos. Mas imaginamos 🙂

Acabamos o dia com um jantar magnífico no restaurante U Kucharzy. É localizado num antigo arsenal, com uma cozinha aberta, um balcão corrido, uns pratos fabulosos, um trio de jazz muito divertido e uma clientela com um ar jovem e cosmopolita.
Tinham-me dito  que era aqui que se comia o melhor bife tártaro do mundo e arredores, por isso nem hesitei quanto ao pedido – embora o pato assado também tivesse um ar divinal.


O bife tártaro foi preparado ao momento, à nossa frente, pelo cozinheiro que trouxe todos os ingredientes num carrinho de madeira. Picou, misturou e serviu. E que maravilha, sim senhora, isto principalmente para quem como eu gosta do bife tártaro bem condimentado. Este abusa nas alcaparras, na cebola, nos cournichons.
Para acompanhar pedimos ainda um foie gras que foi servido acompanhado de rábano picante e compota de frutos silvestres e um arengue marinado em azeite e cebolinha, acompanhado de uma couve fatiada em molho de iogurte. Estava tudo maravilhoso.

Em Varsóvia ficámos hospedados no Bristol um dos hotéis clássicos da cidade, datado de 1899 e considerado o hotel mais luxuoso da Polónia. Mistura um estilo neoclássico com apontamentos art noveau, tem quartos confortáveis, um pequeno almoço onde não faltam as especialidades locais, como o foie gras, o salmão fumado e o arenque e ainda um wine bar onde sabe muito bem estar a beber um copo ao final do dia, a ver a vida passar pelas grandes vidraças que dão para a “Royal Route” .

 


Infelizmente só ficamos por aqui uma noite, pois no segundo dia seguimos para Cracóvia.
Mas antes ainda passámos pelo Museu da História dos Judeus Polacos que conta de maneira exímia a vida deste povo , que até à invasão dos alemães, tinha na Polónia a maior comunidade de toda a Europa.
O museu inaugurado em 2012, no bairro onde existia antigamente o gueto de Varsóvia – que foi completamente bombardeado e incendiado durante a guerra – para além de ser muito bonito do ponto de vista arquitectónico, tem uma exposição muito bem elaborada, interessante e interactiva. Vale mesmo muito a pena uma visita. Infelizmente a história deste povo, como tão bem sabemos, é desde sempre uma história de perseguição, de sobrevivência, de dores e de perdas… E acabo de lágrimas nos olhos e com um soluço preso na garganta perante as paredes repletas de testemunhos de antigos sobreviventes do gueto de Varsóvia…quando a guerra começou viviam lá 450 mil pessoas, destas só restavam 50 mil em 1943, as restantes tinham sido deportadas para os campo de concentracão.


Quando os sobreviventes resolveram confrontar as tropas alemãs a 19 de abril desse ano, com as poucas armas que tinham, o resultado foi uma das piores carnificinas da história, com muitos milhares de mortos e com as forças nazis a destruírem o gueto por completo.
À porta do museu, lá está o memorial aos heróis do gueto, onde não faltam permanentemente coroas de flores frescas.
Conta-se a história que no ano de 1970, quando o chanceler alemão Willy Brandt visitou este monumento, se ajoelhou num gesto de contrição perante os crimes praticados pelos alemães contra o povo judaico.
Foi um gesto bonito… mas apenas um gesto. E há coisas que nenhum gesto consegue apagar.

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