Polónia: 3º dia – Auschwitz

Não foi fácil decidirmos a visita a Auschwitz… eu já estive no campo de concentração de Dasnau há uns anos atrás e até hoje me recordo do silêncio penetrante, do cinzento profundo e do peso com que saí da visita. O F. nunca tinha ido a nenhum e tinha “mixed feelings”.

Acabámos por decidir só no próprio dia e corremos a inscrevermo-nos numa visita guiada que partia daí a uma hora. Podiamos ter ido por nossa conta e risco – e essa era uma das opções que preferiamos – mas para além de não ser fácil alugar carro no centro de Cracóvia – a grande maioria dos rent a cars estão no aeroporto, também faz sentido ter um guia.

Auschwitz e Birkenau são enormes – só este último tem 175 hectares- e vale a pena não perder tempo à procura do que vale a pena ver ou não e além disso,  é sempre bom acompanhar as imagens com algum relato.

Não me quero alongar muito neste capítulo, já toda a gente sabe – ou deveria saber – a história de sofrimento dos judeus e outros povos na II Guerra Mundial. Mas o que eu fiquei a saber durante a visita é que a história ainda foi bastante pior do que aquilo que nos contam nos filmes e nos livros. Aquilo que por lá se vê, denuncia o pior do pior. Fica-se mesmo com a sensação que, infelizmente, a morte era o melhor que poderia acontecer aos milhões de judeus que foram deportados para ali. E quando a morte é muito melhor do que tal existência.

O silêncio é perturbador, o cenário desolador não tem descrição e as mais das vezes dei por mim a virar a cara para não ver os despojos que restaram de tal carnificina – óculos, malas de viagens, dentaduras, próteses, cabelo humano, sapatos etc…..

Logo ao início uma frase escrita na parede dizia qualquer coisa como: se não houver testemunho daquilo que se passou, não se evita que possa voltar a acontecer.

E não posso concordar mais, daí ter ido a Auschwitz, daí concordar que se tenha mantido este museu e este memorial, daí achar que o sofrimento de tantos milhões tem que servir pelo menos para que a história da humanidade não volte a viver tal barbariedade.

Terminámos a visita já ao cair da noite, sob um frio imenso, depois de visitarmos antigas camaratas, latrinas, câmaras de gás e crematórios, uma neblina a toldar Birkenau, um silêncio pertubador, as árvores ao fundo totalmente despidas e de repente começamos a ouvir o entoar de uns cânticos e vemos ao longe, junto aos destroços de uma antiga câmara de gás, onde noite e dia cintilam velas e há coroas de flores frescas, um grupo de jovens israelitas abraçados numa roda a cantar baixinho…   Tão triste e tão belo. Tão doloroso e oa mesmo tempo tão harmonioso.

Há momentos que não se esquecem e sei que por mais anos que viva este será um deles.

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À chegada a Cracóvia e para mudarmos diametralmente de registo – confesso que estávamos ambos bastante amarfanhados e outra coisa não seria de esperar – resolvemos ir conhecer o bairro da noite cá do burgo, o bairro judeu de Kazimierz e que giro que é este bairro.

Aconselho uma visita tanto de noite como de dia, pois para além de ter muitos bares e restaurantes giros, também tem muitas lojinhas de designers locais e galerias de arte que vale a pena espreitar.

O nosso primeiro poiso foi o bar Alchemia que com as suas várias salinhas e o seu ar rocócó faz lembrar um bocadinho a Pensão do Amor, em Lisboa. O sítio é muito giro, o ambiente ecléctico, a música de fundo está no ponto ideal, pena não ter serviço de mesas, aliás como a maioria dos cafés e bares em Cracóvia.

A fila ao balcão requer sempre alguma paciência, embora o serviço até seja rápido. Pedimos o vinho da casa e umas chamuças. O primeiro não desilude, já as segundas…. É melhor o molho de chilli que as acompanha do que as próprias.

Ainda antes de jantar resolvemos dar uma volta pela praça e espreitar os vários bares que a circundam…, há uns com um ar muito giro como o Singer – que tem na esplanadas antigas máquinas de costura Singer a fazerem de mesas – outros com um ar mais apirosado, outros mais sérios, outros mais atabernados e por aí fora… Mas no geral, animação não falta por aqui. A maioria dos espaços abre logo ao início da manhã por isso quem não for de copos, também aqui pode vir para um brunch ou almoço.

Para jantar resolvemos voltar para a Old Town e ir experimentar o Aperitif, restaurante também recomendado por um amigo. É um espaço muito giro, com uma sala de inverno acolhedora e um jardinzinho que deve ser bem agradável nas noites de Verão.

 

 

Como as críticas que tinha lido é que era um bom sítio para experimentar comida polaca, lá resolvemos pedir duas especialidades locais: o pato em molho rosa – um pouco adocicado para o meu gosto – e o javali com tomilho que estava divinal. Ah para entrada ainda partilhamos um foie gras acompanhado de uma geleia maravilhosa.

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Como o Wodka Bar ficava mesmo na rua detrás, lá fomos nós lá parar outra vez, só para mais um shotzito de vodka com pimenta… Mas só um, que amanhã ainda é dia 🙂

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