3º dia – Pelo vale de Kathmandu

Numa visita ao Nepal é imprescindível pelo menos um dia de passeio pelo vale de Kathmandu. Pode-se negociar o aluguer de um carro com motorista e guia no próprio hotel e pagar cerca de 120 dólares ou então tentar arranjar um táxi, prescindir do guia e negociar um passeio pelo vale por uns 60 dólares.

É esta a nossa opção e não nos arrependemos. À hora combinada o taxista está a nossa espera à porta do hotel num pequeno Suzuki tão estreito como o meu Smart, ideal para as ruas labirínticas da cidade.

O primeiro destino do dia é o templo Swayambhunath, património mundial e que é conhecido como o Templo dos Macacos, visto ter tantos a pulularem por lá.

 

 

Construído no século XVII fica no cume de um dos montes que rodeia a cidade e para lá chegar a cima é preciso subir 300 e tal degraus. Se contarmos que às 8 da manhã já estão 30 graus em Kathmandu, depressa percebemos que ser budista, ou neste caso turista, não é propriamente fácil.

Chego lá acima a deitar os bofes por fora e com pouca capacidade para conseguir absorver a beleza do espaço. A “stupa”  – monumento budista que contém no seu interior milhares de orações, relíquias de Budas, estátuas, incenso e oferendas – é bonita mas tem muito incenso à volta, muitos pombos, muitos macacos, algumas bancas de souvenirs. Não sei se é de mim, mas já vi espaços mais místicos do que este.

 

 

Damos uma volta breve – sempre no sentido dos ponteiros do relógio, não vamos ferir susceptibilidades – e voltamos para o carro rumo a Patan, acerca de 20 minutos de viagem,  chamada em tempos de “Cidade da Beleza”. Infelizmente esses tempos já lá vão. O terramoto de 2015 foi bastante violento e arrasou com uma grande parte de Patan. Mesmo assim, ainda se vêem aqui alguns dos templos  e palácios mais bonitos do país. Tem também um museu de arte, considerado dos melhores de toda a Ásia.

 

 

Vale a pena subir ao rooftop do Cafe du Temple para ter uma bonita vista sobre a Durbar Square de Patan.

Ainda damos uma volta pelas redondezas mas para lá de Durbar Square,  o estado de destruição chega a ser constrangedor.

 

 

De volta ao carro, o destino seguinte é Bhaktapur, acerca de meia hora de viagem. Cidade medieval, centro cultural e artístico do Nepal, foi até ao terramoto de 2015 a cidade mais bem preservada do vale de Kathmandu. Hoje é de ir às lágrimas andar pelas suas ruas e praças e ver o que se mantém, o que foi destruído e o que se mantém periclitantemente em pé, à beira de uma derrocada eminente. Deve ter sido uma cidade lindíssima e os traços que restam revelam-no bem.

 

 

Mesmo assim vale muito a pena visitar Bhaktapur, no meio de tanto pó, de tanta destruição, é bonito ver como os seus habitantes mantém o sorriso, a dignidade e uma perseverança ímpar. As lojas de portas abertas com as mercadorias cobertas de poeira, as bancas montadas à beira de fachadas em pré-colapso, mas a vida continua e não é a baixar os braços que se reconstrói uma cidade.

 

 

Vejo bebés pequeninos ao colo das mães que deviam estar ainda grávidas na altura do terramoto e não imagino o que será dar à luz no meio de tanta desgraça, vejo crianças a correr pelas ruelas de gargalhada solta, a brincarem entre destroços, vejo velhotes a caminharem pelas ruas de passo cambaleante e nem consigo pensar no que terão perdido há um ano atrás. No que a vida lhes roubou depois de tanto que deverão ter lutado para conquistar um pouco de  algo. E mesmo assim quando cruzam o olhar com o meu, sorriem. Como se lhes tivessem tirado tudo, menos a capacidade de continuarem a sorrir.

 

 

 

Almoçamos um caril de vegetais no New Peacock com vista sobre a praça de Tachupal Tole. Durante todo o almoço vejo mulheres a irem ao poço buscar baldes de água e carregarem com eles para as suas casas. Há vidas mais fáceis.

 

 

 

 

No final do almoço,  despedimo-nos de Bhaktapur e rumamos ao nosso último stop, o templo de Bodhnath, já quase a chegar à cidade de Kathmandu. É a maior Stupa de toda a Ásia e um dos mais importantes locais de peregrinação dos budistas. Construída no século VII, ficou semi destruída pelo terramoto e está neste momento a ser reconstruída. Entre andaimes e lojas de souvenirs à volta, resta pouco espaço para o ambiente místico que esperávamos.

 

 

 

Voltamos para Kathamandu para a noite de despedida. Amanhã espera nos o Butão e novas descobertas.

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Blog Comments

Olá,

Gostei muito de ler acerca da vossa visita a Kathamandu após o terramoto…eu estive aí em 2010…e penso em voltar.
Pena não terem ido até Pokhara 🙂 tentem ir numa próxima!

Obrigada pela partilha!

Olá Rita foi pena sim, não tivemos tempo, andámos só pelo vale de Kathmandu e depois fomos para o Butão. Mas adorei o Nepal. Fiac para uma próxima. Um bojo
Catarina

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