E há quatro anos estava por aqui….Moscovo

  • Home
  • Ásia
  • E há quatro anos estava por aqui….Moscovo

“Na capital do luxo

Vinte anos depois do fim da União Soviética, Moscovo tornou-se o o paraíso da riqueza e da ostentação. Todos os meses abrem novos restaurantes de elite, pelas ruas não faltam Rolls Royces e limousines, marcas como Chanel e Gucci vendem como em nenhum outro sítio. Bem-vindos à cidade com maior concentração de multimilionários no mundo.”

 

12.00. Sexta-feira. Início de Maio. Na Praça Vermelha, centro de Moscovo, seis pessoas esperam a sua vez junto ao detector de metais para entrarem no mausoléu onde repousa o corpo embalsamado de Lenine. Já lá vai o tempo das longas filas para ver o antigo líder bolchevique. Nos dias de hoje, filas só do outro lado da Praça, à porta da loja da Dior, quando chega uma nova colecção.

Duas décadas depois do desmembramento da URSS, Moscovo está a um passo de ser uma capital do mundo. Restaurantes, bares, galerias de arte, lojas das principais “griffes”, champanhe e caviar a rodos.

IMG_9843

Com 2 por cento de desemprego, a cidade é o berço de grande parte dos 103 mil milionários russos que existem actualmente. Um número que segundo um estudo recente da consultora Deloitte, deverá ascender a um milhão até ao ano 2020. Entenda-se por milionário, pessoas com fortunas superiores a um milhão de euros.

Em Moscovo há muito dinheiro e nota-se. Pelas ruas pejadas de trânsito, grande parte dos carros são topo de gama – Audis TT, principalmente -, pretos de vidros fumados e conduzidos por motoristas.

 

As lojas de luxo sucedem-se. Em plena Praça Vermelha, o Gum é o maior centro comercial da cidade e um dos mais luxuosos do mundo. Muitas vezes equiparado ao Harrods em Londres ou ao Bloomingdale’s em Nova Iorque, tem grande parte das grandes marcas mundiais. Na rua pedonal de Stoleshnikov, alinham-se lojas de luxo, tais como a Cartier, a Hermés, a Louis Vuitton, a Lancel. “Os russos desde sempre que adoram tudo o que é francês a diferença é que antes não podiam comprar e agora podem”, explica Anna Oparin, empregada de balcão na Hermes.

Prova que tem razão, é o facto das lojas como a Dior, a Chanel e a Gucci terem em Moscovo um volume de vendas superior  a qualquer outra cidade do mundo.

Anna não faz parte do grupo apelidado de “novos russos”, os multimilionários esbanjadores  excêntricos, consumidores ferozes de produtos de luxo, que surgiram nos últimos vinte anos.  Mas não se queixa. Ganha cerca de 1300 euros – o ordenado médio mensal é 700 euros – e embora Moscovo esteja cotada como a terceira cidade mais cara do mundo, Anna diz que consegue fazer uma boa vida.

IMG_9859

“Não compro roupa na Dior, mas compro na Zara – cujos produtos são em média o dobro do preço do que em Portugal”, afirma. “Vivo nos subúrbios, mas não é muito longe do centro, não tenho carro mas há metro para todo o lado. Não vou jantar fora todos os dias mas vou sair todos os fins de semana para beber uns copos.”

Sair à noite, fumar e beber é alias um dos “hobbies” favoritos da sociedade moscovita. Não faltam bares e discotecas, a qualquer hora da noite pode-se dançar e beber um copo. Até ao amanhecer. As opções são várias e eclécticas, dos “hits” dos anos 80, aos êxitos mais actuais, passando pelo rock russo.

 

Bebe-se muito. Mas a vodka é (quase) passado. O champanhe é neste momento uma das bebidas favoritas dos “novos russos”. De acordo com o relatório do Comité Interprofissional do Vinho de Champanhe, a Rússia está entre os 15 países do mundo onde se bebe mais de um milhão de garrafas desta bebida por ano.

“Depois de tantas décadas de repressão, os moscovitas em geral – e os “novos russos” em particular -, querem é diversão, viver o dia-a-dia”, explica Anastasia Chaikovskaya, cliente habitual do O2 Lounge, um dos bares mais “trendys” da capital russa.

Localizado no último andar do hotel Ritz Carlton, totalmente coberto de vidro, tem um grande terraço com uma vista soberba sobre o Kremlin e a Praça Vermelha.

Anastasia, 35 anos advogada, gosta de se divertir e afirma que este é um dos seus sítios favoritos. “Para beber um copo, ouvir música ou até comer um prato de sushi a uma da manhã.”

Mas como divertir tem um preço, no O2 Lounge não há garrafas de vinho abaixo dos 140 euros e os preços do sushi são no mínimo proibitivos. “Depois de tanta instabilidade, tanta crise, penso que a maioria dos moscovitas não se importa de gastar o que tem, pois pode não vir a ter outra vez”, explica Anastasia, enquanto pede a terceira garrafa de vinho da noite para ela e uma amiga. Para acompanhar, mais sushi.

A comida japonesa é aliás outra das grandes paixões da sociedade russa. Não há rua de Moscovo que não tenha pelo menos um restaurante que sirva as especialidades da cozinha nipónica. Até pode ser uma casa de hambúrgueres, mas se não tiver também sushi na ementa é melhor já fechar as portas.

Comer com pauzinhos tornou-se quase um símbolo de status. E até já há um Nobu – conceituado restaurante de cozinha japonesa – na capital russa. Uma refeição neste espaço custa em média 150 euros. E é difícil conseguir reservar uma mesa.

No Art Strelka, outro dos sítios da moda, são 11 da noite, a música está ao rubro e os cocktails não param. De decoração moderna e parede de tijolo- burro, este é um dos espaços nascidos numa antiga fábrica de chocolate, que nos últimos anos se começou a tornar um pólo de restaurantes, bares, galerias de arte e lojas de roupa alternativa.

IMG_9890

No Verão não faltam também esplanadas com vista para o rio. O terraço em deck do Art Strelka, com vista para a Catedral do Cristo Redentor, é das mais concorridas. Comem se petiscos: sopa de beterraba, pratos de queijos e enchidos, croquetes de courgete, bruschettas e crepes orientais. Bebe se vinho, cerveja e fuma-se. Muito. A moral anti tabagista ainda não chegou a Moscovo, não há restaurante ou bar que obrigue os seus clientes a irem para a a rua se quiserem lançar baforadas.

Por perto, a discoteca Rai é a maior de Moscovo e uma das mais concorridas. À porta vêem-se Ferraris e senhores de porte musculado e cara de poucos amigos. Lá dentro há salas privadas para os clientes mais VIPs.

Às três da manhã está a pinha, elas vestidas para arrasar, calças coleantes, saltos vertiginosos. Suri, barman da casa, explica que muitas das meninas que se agitam no meio da pista são namoradas ou filhas de multimilionários. Eles mais regatados, não são tanto de se bambolearem, preferem ficar nos privados a beber e à conversa. “E bebem bem e do bom, há quem gaste 10 mil euros ou mais numa noite”, confidencia Suri.

Trocos para quem tem milhões. “E são cada vez mais os que têm milhões.” “Bom para todos”, diz a barman do Rai, “assim não falta trabalho.” E diversão. E remata, já  enquanto prepara mais dois cocktails: “O mundo vai ver, já faltou mais para que Moscovo seja uma autêntica Nova Iorque, uma cidade que nunca dorme, onde se encontra tudo do bom e do melhor, onde se pode fazer tudo, onde se vê tudo.” Há dúvidas?

Catarina Serra Lopes”

Artigo originalmente publicado na revista Tabu do jornal Sol

 

 

 

Tags:
Deixe um Comentário