Arroz de frango aldrabado da Esperança

Fiquei chocada com a queda do avião da LAM… porque estes acidentes tocam-me sempre de uma forma especial. E este em especial. Porque me farto de andar de avião, porque já voei muitas vezes na LAM e ainda de certeza que irei voar muito mais vezes, porque Moçambique é a minha segunda casa e um país e que me cabe todo dentro do coração, porque deve ser inimáginavel viver uma coisa assim, porque estou grávida e ponho me agora a pensar se de futuro não irei ser muito mais cautelosa, com estas sitios por onde vou, como vou, os riscos que corro…já não terei que pensar só em mim, mas também num “mini me” que já que veio cá ao mundo por escolha minha, merece que eu fique cá por mais uns longos tempos a (tentar) orientar lhe os caminhos… ou pelos menos a mostrá-los para depois ela ir por onde quiser (que é o que a maioria dos filhos fazem, não é?).

Enfim… isto de desastres de avião com hormonas à mistura dá um resultado sério e Moçambique e os que perderam a vida neste acidente têm estado nos últimos dias nas minhas orações.

E como tem (tudo) a ver, aqui fica hoje uma receita que como sempre que vou a Moçambique, feita minha querida Esperança, que tem no nome aquilo que devemos ter dentro de nós. Sempre.

Arroz de frango (aldrabado) da Esperança

IMG_0104

Quase todos os anos vou a Moçambique em trabalho. Normalmente fico lá uns 15 dias entre viagens, jantares, dias de piscina, praia, cervejas, amêijoas e reencontros de amigos.

Há uns anos, entre muito trabalho por lá e pouca ou nenhuma vontade de voltar para cá, fiquei em Moçambique cerca de dois meses, vivendo em casa da minha amiga Rita; bem no centro de Maputo, junto ao Palácio dos Casamentos. Uma casa de tectos altos, paredes amarelo-torrado e ventoinha de pás no tecto. Uma casa sempre de portas abertas, de amigos a entrar e a sair, de conversas, risos e cervejas geladas.

Eu passava os dias na sala, a escrever no meio de um calor abrasador, intercalando as teclas com uns dedos de conversa com a Esperança, a empregada lá de casa. Moça de sorriso envergonhado e andar arrastado. De frases curtas e gestos cansados. Em Moçambique não há pressa, tudo “há-de fazer-se”.

Na altura, a Rita começou a organizar uns jantares que, nos últimos anos, se tornaram muito populares em Maputo. Chamam-se “Jantares de Quinta” e a ideia é que apareçam todos aqueles que são amigos, amigos de amigos ou conhecidos de amigos. A Esperança cozinha, os comensais trazem as bebidas. E assim se enche a casa das paredes amarelo-torrado. Há semanas que aparecem vinte pessoas, noutras semanas aparecem oitenta. Portugueses, moçambicanos, italianos, chilenos, holandeses… numa miscelânia de línguas, de culturas, de histórias e percursos vários.

A cargo da Esperança, nessas quintas-feiras, a ementa vai variando: umas vezes matapa – uma espécie de esparregado com amendoim –  outras vezes caril de vegetais, maionese de atum, etc…

Entre todos os pratos, houve um que ficará conhecido para sempre, não tenho dúvidas, como o “melhor arroz de frango do mundo”. Pelo menos para mim e para a Esperança, que durante esses dois meses em que me exilei em terras moçambicanas, não poupou esforços, nem arroz, nem frango, para me engordar.

A verdade é que nunca comi nenhum igual e desde então, sempre que chego a Moçambique e entro de “armas e bagagens” na casa das paredes amarelo-torrado, a Esperança abre o seu sorriso tímido e começa logo a preparar o seu arroz de frango. Único, delicioso. O truque? Não sei. Ela já tentou explicar-me a receita tim-tim por tim-tim e não percebi porque é que o meu fica sempre diferente do dela. Deve ser dos ares de Moçambique, só pode ser.

Tudo isto para explicar que a receita que se segue não é o arroz de frango da Esperança. Infelizmente não é. Mas é uma tentativa, diferente e também muito boa.

Quem quiser experimentar a verdadeira, é só aparecer na casa de paredes amarelo-torrado; mesmo ao lado do Palácio dos Casamentos. Com um pack de 2M debaixo de braço. Diga que vai da minha parte.

Para 4 pessoas

  • 800 gramas de frango
  • ½ farinheira
  • 3 cenouras
  • 2 e ½ de canecas de arroz
  • 2 linguiças
  • 1 cebola
  • 1 ovo
  • 1 colher de sobremesa de alho em pó
  • azeite
  • louro
  • sal

Num tacho, em lume brando, comece por cozer as cenouras e o frango cortado aos pedaços, com sal, meia cebola, uma folha de louro, um pouco de azeite e dois copos de água.

Quando estiver quase cozido, junte a farinheira, espere uns 5 minutos e desligue o lume. Reserve a água. É com esta que vai fazer o arroz, para que assim receba o sabor do frango, da cenoura, da farinheira e dos temperos.

Desfie o frango, corte as cenouras em rodelas fininhas e leve a saltear numa frigideira ou num wok, com um fio de azeite e dois dentes de alho.

Junte a farinheira já sem a pele e a folha de louro. Rectifique o sal e desligue o lume.

Quando o arroz estiver pronto, junte num pirex a mistura do frango, da farinheira e das cenouras com o arroz. Envolva bem para que fique homogéneo.

Por cima, pincele com uma gema de ovo e espalhe as linguiças cortadas às rodelas.

Coloque no forno com o grill ligado a 180 graus. Quando o arroz estiver dourado e a linguiça estaladiça, está pronto. Sirva com uma salada de alface.

Uma receita do livro:

NImpr_Pelo mundo com os tachos-1

 

Tags:
Deixe um Comentário