Austrália… que saudades…

 

Sempre que organizo viagens na Follow Me   sinto me como se estivesse  a viajar novamente. É um autêntico regresso ao passado e aos sitios fantásticos por onde já andei. Quase volto a sentir aquela emoção da descoberta que vivo em cada viagem.

Neste momento ando a planear a viagem para a Austrália de 6 pessoas, já para Maio, e que bom que é reviver a viagem que fiz aquele país maravilhoso. Adorei, adorei a Austrália e tenho a certeza que ainda voltarei lá, em breve, com o F.

Aqui fica a reportagem que escrevi na altura para o Fugas.

 

Vinte dias pela Costa Leste da Austrália

 

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De Sydney a Cairns, a Austrália estende-se à beira-mar por mais de quatro mil quilómetros de areais imensos e ondas perfeitas. Passando pela Grande Barreira de Corais, pelas centenas de ilhas desertas e pelas cidades cosmopolitas, Catarina Serra Lopes partiu à descoberta da Costa Leste do continente mais antigo do mundo.

É dificil chegarmos à Austrália e não nos sentirmos realmente do outro lado do mundo. Não que se ande propriamente de pernas para o ar entre cangurus e koalas, mas sim pelas cerca de vinte e seis horas de viagem – não contando com o tempo das escalas – que separam Portugal do grande continente dos mares do Sul.

Uma viagem algo estenuante – a que se juntam 11 horas de diferença horária- que talvez seja a razão, pela qual a Austrália é por excelência um dos locais do mundo mais virado para um turismo não apenas jovem, mas muito jovial. Afinal, nem todos aguentam fazer uma travessia do planeta para chegar a um continente onde o destino final nos abre tantos caminhos maravilhosos, que escolher por onde seguir torna-se uma dificil façanha.

Para começar, imagine-se simplesmente uma área tão imensa como a dos Estados Unidos da América ou de todo o continente europeu, onde a densidade habitacional é de um habitante por quilómetro quadrado. Depois pense-se numa grande ilha que se tornou numa nação há apenas dois séculos, depois de mais de 40 mil anos de história aborigene, com paisagens tão variadas quanto maravilhosas, que vão da praia à montanha, da floresta a um deserto tão colossal quanto árido.

E chegados aqui fica então a indecisão: por onde será o melhor caminho? Pelos18 mil quilómetros de praias de areia branca de toda a costa, ou pelos parques naturais, autênticas selvas amazónicas vibrantes de vida selvagem?

O que escolher: Um passeio pelas centenas de ilhas desertas do Nordeste tropical ou uma jornada de aventura pelas maravilhas do deserto, bem no interior do país?  Se a opção for ver de tudo e o tempo não for um problema, nada melhor do que uns dois meses a passear pelo continente inteiro, entre o Sul mais desenvolvido e o Norte mais selvagem, entre as ondas perfeitas da costa Leste, ou as praias mais isoladas do mundo, à beira do Indico, ao longo da costa Este. Mas se o tempo não se resumir a mais de umas três semanas de viagem, então o melhor é partir à descoberta da costa mais vibrante da Austrália, à beira do Oceano Pacifico, entre Sydney e Cairns.

Pelo menos é o conselho de Dennis, um australiano de 1 metro e 90 de altura e olhos azul água, com quem me cruzo em Singapura, eu a meio de uma escala para a sua terra Natal, ele a meio de uma paragem numa volta pela Ásia. Numa mesa de pequeno-almoço, entre ovos mexidos e salsichas, primeiro pede-me o sal, depois pede-me a pimenta e por fim, apresenta-se com um ar de miúdo envergonhado, e conta-me histórias do mundo por onde já andou e por onde ainda quer andar. Sempre de mochila às costas, “mas com muita qualidade”,  fruto dos saberes que foi conquistando ao longo dos seus sessenta anos de idade, brilhantemente disfarçados por um invejável espirito de aventura.

Em duas horas de conversa perco-me nos seus relatos do continente que o viu nascer e dissipam-se-me as dúvidas: parto rumo à Costa Leste, decidida a percorrer em vinte dias, quatro mil quilómetros, sempre à beira-mar com areais imensos e densas florestas tropicais, cidades cosmopolitas e pequenas vilas de férias. Sempre de calções, t-shirt corpo bronzeado, já que as temperaturas não descem abaixo dos vinte e muitos graus e a água do mar não passa do mesmo.

No fundo “uma mistura explosiva entre a Inglaterra e o Brasil”, segundo descreve Dennis, para quem os australianos são um povo “que se sabe divertir muito mais do que os europeus, mas também sabe trabalhar mais do que os brasileiros.” “E acima de tudo que tem sabido preservar um país que em muitos sentidos é quase intacto”, afirma, deixando-me na bagagem inúmeras dicas para uma viagem que já prevejo de sonho. Sydney com os seus arranha-céus à beira-mar, Byron Bay, um dos últimos redutos da cultura hippie, Fraser Island a maior ilha de areia do mundo e as Withsundays, “onde dezenas de ilhas desertas fazem com que a palavra paraíso ganhe uma expressão própria.”

E no fim, “porque para o fim pode não ficar o melhor, mas fica sempre o mais inesquecivel”, a Grande Barreira de Corais, “uma das maiores maravilhas que a Austrália concedeu ao mundo”.

O pequeno-almoço termina, despeço-me de Dennis que segue viagem rumo a Laos e ao Vietname e sigo caminho para a Austrália, já perfeitamente convencida que vou visitar um país realmente único no mundo. A realidade não me irá desiludir, ficam algumas das suas maravilhas que meras palavras e fotos não chegam para provar.

 

Sydney: Uma Nova Iorque à beira-mar.

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O que se pode dizer de uma cidade que vibra de uma jovialiadade fervilhante, fruto de muito sol, calor, arranha-céus deslumbrantes, praias sensacionais, muito surf, muito espirito de aventura?

Em Sydney, toda a gente parece que bebeu o elixir da juventude eterna. Não há pobreza, não há sujidade, não há tristeza, Aqui a vida é para ser passada com um sorriso nos lábios e uma toalha de praia na mão. No fundo, uma Nova Iorque à beira-mar, com o azul do oceano Pacifico a espelhar-se nos grandes arranha-céus.

Chego a Sydney às duas da tarde de uma sexta-feira e embora saiba que este é um dos mais importantes centros financeiros a nível mundial, nada o faz crer. Pelos vastos relvados, espalhados pelo centro da cidade, veêm-se centenas de pessoas estiradas ao sol, de calças enroladas e mangas arregaçadas, nas esplanadas, reúnem-se executivos, grupos de amigos e familias inteiras, com carrinhos de bebé ao lado e caneca de cerveja na mão. Nas ruas não se vê ninguém com demasiada pressa, o sol brilha radioso e os ferries saiem de Circular Quay, rumo aos subúrbios de Sydney cheios de passageiros de semblante feliz. Talvez porque mesmo os suburbios deste canto do mundo lembram mais uma rivieira francesa, uma Cote d’Azur, do que propriamente as cidades-dormitório a que estamos habituados.

Passo dois dias a vaguear pela cidade, entre as grandes avenidas do centro e a fantástica praia de Bondi Beach, famosa por aqui se reunirem no Natal pessoas provenientes de países do hemisfério Norte, para celebrarem juntas uma quadra sem o frio e a neve que normalmente a caracterizam.

Para lá do Natal, na grande marginal junto à beira-mar, encontram-se pessoas do mundo inteiro, em viagens pelos cinco continentes, de mochila às costas, sentadas pelas marisqueiras que por aqui abundam. Como Joshua, 28 anos, natural do Canadá. Há cinco meses chegou a Sydney com dois amigos, depois de uma volta pela América do Sul e a caminho da Europa. Mal chegou a Bondi Beach soube que seria por aqui que iria ficar uns tempos, primeiro sem fazer nada de nada, depois a servir às mesas num dos muitos cafés à beira-da praia. Os amigos seguiram caminho, mas Joshua não se arrepende, também um dia irá partir e continuar a sua viagem rumo á Europa. Até lá, vai vivendo cada dia como se fosse o primeiro e o fascinio com que fala da grande ópera de Sydney a brilhar ao sol continua a prendê-lo a uma terra que afirma ser única. Se restarem dúvidas, Joshua aconselha uma súbida à Harbour Bridge, a grande ponte de onde é possivel admirar a cidade inteira. “Ao pôr-do sol, de preferência”, salienta, de olhar brilhante. “Vão-se sentir realmente no topo do mundo, vão-se sentir realmente no centro, mas sem aquela correria toda de Londres, de Nova Iorque. Aqui há uma cultura própria, uma cultura australiana que venera o sol, a praia, a juventude, o desporto. No fundo, o que é preciso mais para além disto?”.

Parto de Sydney uma noite depois, rumo a Byron Bay. Para trás deixo uma das mais bonitas cidades do mundo, pela frente ficam mais de mil quilómetros, comigo levo a recordação de Joshua, um intrépido viajante e uma questão: realmente o que é preciso mais para além disto?

 

Byron Bay: uma vila à beira-mar

 

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Localizada no ponto mais oriental da Austrália, Byron Bay é sem dúvida um dos sitios imperdiveis numa viagem pela Costa Leste australiana. Situada á beira-mar, ponto central de trinta quilómetros de praias de areia branca e ondas perfeitas para a prática do surf, esta pequena vila de casas pequeninas e florestas tropicais à beira-mar, começou por ser descoberta por surfistas, depois pelos hippies e mais recentemente pela comunidade alternativa de Sydney. Artistas, pós-modernos e “fashion victims” escolhem todos os Verões este paraíso para uns dias de descanso, tendo-se tornado cada vez mais um sitio onde se deve estar. Para quem é estranho a estas modas, Byron Bay parece-se simplesmente com uma vilazinha calma, quase sem trânsito, praias praticamente desertas, um mar de águas tépidas, batidos de frutas, muita comida vegetariana, muito surf, muito body board e muitas palmeiras.

Às quatro da tarde, os bares junto á praia estão apinhados, bebe-se cerveja a rodos e grupos tocam ao vivo. Às nove da noite as ruas estão desertas e é praticamente impossivel arranjar um sitio onde jantar.

Os quartos dos hóteis são de madeira no meio da floresta tropical e em alguns locais mais alternativos, como o hostel Art Factory pode-se mesmo optar por dormir numa antiga tenda aborigene, partilhando o jantar com os restantes hóspedes que aqui se chamam entre si, companheiros de comunidade.

Mas para uma experiência mesmo muito alternativa, resta Nimbin, a uma hora de carro, uma pacata localidade, onde o espirito hippie se mantém vivo entre todos os habitantes. As casas são às cores, no meio da vegetação e vende-se marijuana no meio da rua, mesmo à porta da esquadra da policia. As terapias alternativas são praticamente o único negócio existente, pelo menos legal, e todos parecem viver por aqui sem saber bem o que se passa no mundo que está lá fora. “Mas para que é que isso interessa? Para que é interessa o mundo lá fora, se temos o mundo aqui dentro?”, explica Silvie, jovem francesa de 31 anos, há cinco a viver em Nimbim, onde abriu uma loja de pedras e cristais. “Estou feliz aqui, tenho amigos, tenho praia, tenho sol todo o ano, às vezes até consigo ver as baleias a passar no horizonte”, e tal como Joshua, me disse uns dias antes, ao sol de Sydney, “o que é que preciso mais para além disto?”, pergunta-me Silvie.

Não sei a resposta. Mas já estou a começar a perceber que este é o espirito, senão australiano, pelo menos de quem para aqui vem e por aqui fica.

 

Fraser Island: a maior ilha de areia do mundo

 

O que dizer de uma ilha com mais de 120 quiómetros de comprimento, totalmente deserta, com mais de duzentos lagos de água doce e com uma floresta virgem com árvores que chegam a os 180 metros de altura, para além de uma praia de 12 quilómetros de areia branca, frente a um mar paradisiaco? Parecem demasiadas maravilhas para um só local, mas existe e a realidade ultrapassa largamente qualquer imagem com que se possa sonhar. E tudo isto ao alcance de uma hora de ferry boat a partir de Hervey Bay, uma pacata vila a Norte de Byron Bay, que de único interesse só tem o facto de ser o ponto de partida para Fraser Island, a maior ilha de areia do mundo. Com dunas imensas e um denso bosque tropical, mal pisamos terra firme apercebemo-nos logo porque é que este recanto do mundo está qualificado como património da humanidade. Embora o mar esteja pejado de tubarões e seja impossivel tomar banho sem pôr em risco a própria vida, embora a selva esteja habitada por matilhas de dingos que embora de ar doce, não são de fiar.

Por um dia, a aventura faz-se ao volante de um Land Rover, entre dunas e trilhos pelo meio da floresta totalmente amazónica. Como companheiro de viagem, conto com Joseph, o meu guia de serviço, já que a destreza necessária na condução e as inúmeras encruzilhadas de caminhos tornam imprescindivel que se contrate um profissional. O aluguer de um jipe é outro requisto obrigatório pois o solo é todo de areia e é muito fácil ficar-se atolado. Além do mais é de todo aconselhável conhecer-se esta ilha ao lado de quem nos pode desvendar os seus segredos. Quer se queira passear pela floresta virgem, quer se queira pescar no imenso mar, quer se queira mergulhar pelos lagos, quer se queira simplesmente não fazer nada e ficar a ver o que a criação do mundo fez por nós.

 

Withsundays: As ilhas que vieram do céu

Não é preciso chegar às Withsundays para se perceber que a Austrália é realmente um país abençoado, mas é chegando aqui que nos apercebemos que já deixámos a terra e chegámos ao céu. Ou será que são realmente terrenas estas 370 ilhas, a grande maioria desertas, onde a areia é tão fina que parece que estamos a pisar pétalas de rosas e o mar é de um azul táo limpido que parece que estamos a voar? Eu estive lá e não acredito na sua existência. Ou melhor ainda, não acredito que realmente existam ilhas destas que se mantenham inalteráveis, em estado puro. Sem inúmeros resorts, bares de praia, espreguiçadeiras e areais só para turistas, onde se recriam paraísos artificiais. Não, realmente por aqui o mundo é outro, muito mais virgem, muito mais puro, muito mais real e talvez por isso tão grandioso quanto único.

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Durante três dias e duas noites lanço-me ao mar em descoberta deste paraíso, a bordo de um pequeno veleiro de madeira, já que a única maneira possivel de conhecer as Withsundays é embarcar num dos muitos mini-cruzeiros organizados a partir de Arlie Beach. Como companhia tenho um casal de irlandeses, uma holandesa e uma alemã em viagens solitárias pelo mundo e três jovens italianos como tripulação. Durante três dias somos só nós, o mar e a natureza que se abre pelo oceano fora entre pequenas baías, praias a perder de vista e florestas virgens, onde não faltam papagaios de todas as cores e lagartos a lembrar pequenos dinossauros.

Cada ilha é uma revelação por si mesma, às vezes dou por nós em silêncio, estupefactos a olhar em volta. À noite perdemos as horas em conversas, à luz de lampiões, entretendo o tempo com queijos italianos, pastas, camarões grelhados e gin tónicos. De dia, entre mergulhos pelos corais e cardumes de peixes multicores, vamos velejando ao sabor do vento.

Regresso a terra firme três dias depois, com o olhar preso no horizonte e uma dúvida dentro de mim: Será que algum dia voltarei a estar num sitio tão belo?

 

A Grande Barreira de Corais: uma das maiores maravilhas do mundo

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É impossivel não cair em lugares comuns quando se fala da Grande Barreira de Corais, afinal trata-se simplesmente do maior complexo de recifes do mundo, com uma área de cerca de 350 mil km2, onde se encontram mais de 2 mil ilhas, quase 3 mil recifes distintos e cerca de 2 mil espécies diferentes de peixes.

Sobre esta maravilha da natureza, classificada como Património Mundial, já se escreveu

que é um mundo à parte, que é uma das mais perfeitas obras de Deus, que é um dos locais imperdíveis do planeta. Eu assino por baixo e fico sem palavras. Como é que é possivel descrever um espaço onde se perde a noção da realidade, do tempo e da vida? Porque é gigantesco, porque é belo, porque é tudo o que se possa dizer e ainda mais do que possamos imaginar.

E tudo isto ao alcance de uma dezena de mergulhos ao largo da costa, a bordo de um dos muitos barcos com programas de “liveaboard” – três a cinco dias no mar com direito a alojamento numa cabine, refeições e equipamento de mergulho- que partem diáriamente de Cairns. Para quem não é mergulhador credenciado, há sempre a possibilidade de fazer um dos múltiplos cursos de mergulho disponiveis, com dois dias de aulas teóricas e  três dias no mar.

E depois é só deliciar-se com as profundezas do oceano, entre inúmeros cardumes de peixes, tartarugas gigantescas e corais com a altura de um prédio de sete andares. Se tiver sorte, ainda pode ser que veja um tubarão ou outro, raias, mantas de dois metros, neros e barracudas. Se tiver azar, irá mesmo assim continuar a vir de lá totalmente extasiado, viciado, desejoso de voltar na primeira oportunidade. À Austrália, à Grande Barreira de Corais, ao outro lado do mundo.

Catarina Serra Lopes

Como ir:

A British Airways e a KLM são as únicas duas companhias áereas que voam para a Austrália a partir de Portugal, com escala em Londres ou em Amesterdão e na Ásia. Visto tratar-se de um vôo que no total se aproxima das vinte e seis horas, é de todo aconselhável que se faça uma escala de um dia ou dois em Singapura ou Bankok, para retemperar forças. O preço do bilhete ronda os 1300 euros.

Já na Austrália, para percorrer a costa Leste há duas alternativas: ou alugar um carro, o que poderá ficar por cerca de vinte euros por dia, ou comprar o passe de autocarro para um mês, o que custa cerca de 150 euros e possibilita fazer as viagens de noite, ficando com os dias para passear.

Quando ir:

As estações do ano na Austrália são totalmente ao contrário das nossas, com o Verão a começar por volta de Novembro e a terminar em Março, sendo este o período melhor para ir até lá. No entanto, na costa Leste o Verão prolonga-se praticamente por todo o ano.

 

 

 

 

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