Subida ao segundo maior vulcão da Indonésia

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Rinjani

 

Há quem vá de lua-de-mel para resorts à beira-mar plantados, há quem vá deambular de mão-dada por cidades românticas, há quem prefira passar dias à sombra de bananeiras e noites em jantares românticos à luz das velas, ao som de promessas de amor eterno… e depois há quem, como eu e vá subir ao segundo maior vulcão da Indonésia, o Rinjani.

Dois dias, dez horas a subir, nove horas a descer, 33 graus de inclinação média, temperaturas sempre à volta dos 30 graus e 90 por cento de humidade. Uma noite passada sobre as nuvens numa tenda a 3741 metros de altitude, muitas dores, muito cansaço, os joelhos virados do avesso e os músculos sofridos.

Foi assim há 2 anos, sem desculpa de forma alguma. Logo eu que não gosto muito de subidas e descidas, caminhos estreito e íngremes, trilhos à beira de precipicios e afins… Pois é.. visto isto o que é me deu? Não sei realmente e muito me interroguei quando me vi metida em tal proeza. Acho que no fundo, tinha construído a ideia que seria dois dias de passeio pelo mato, com pouca inclinação, subindo mais em circulos do que quase numa escalada. Nada disso, meus amigos… Hoje olho para trás e rio-me quando vejo as fotos e os vídeos, mas  ainda me recordo bem quando por lá,  implorei por um helicóptero.

No fim sobrevivi para contar a história. Primeiro ao mundo, algum dia (se calhar) aos netos.  Have fun 😉

Subida aos céus da Indonésia

“Durante dois dias, Catarina Serra Lopes, juntou-se a dois irlandeses, uma australiana e três franceses e subiu a pé até à cratera do segundo vulcão mais alto da Indonésia: Rinjani. Dez horas a subir, nove horas a descer, uma noite sobre as nuvens. Pelo meio, algumas dores e lágrimas, panquecas de banana, caril verde, litros e litros de água. E um dos mais belos pores-do-sol de uma vida.”

Quando se pensa na Indonésia, a primeira coisa que vem à cabeça da maioria dos mortais são praias paradisíacas, mergulho, surf do melhor, comidas exóticas, palmeiras e templos. E realmente a Indonésia, é isso, mas não é só isso.

Todos os anos, entre Maio e Novembro, milhares de viajantes intrépidos deslocam-se a este país e trocam uns dias de praia pela aventura de subir ao segundo maior vulcão do arquipélago, o Rinjani, na ilha de Lombok. 3741 metros de altitude no total, cerca de 33 graus de inclinação, temperaturas sempre à volta dos 30 graus e 90 por cento de humidade, fazem desta uma aventura que não é para aqueles que querem, é para aqueles que conseguem. Prémio final? A sensação de prova vencida e uma vista de arrasar. Mas comecemos pelo início.

5h30 da manhã

Ainda não nasceu o sol em Lombok e já o representante da empresa de “trekking” que me vai acompanhar ao topo do Rinjani, está à porta do hotel a apanhar-me para me dar boleia até Senaru. Durante as duas horas de viagem de carro, da parte de Noroeste da ilha de Lombok até à base do vulcão, Woggo vai discorrendo dados sobre o Rinjani. Que é o segundo maior da Indonésia, que ainda está em actividade, que a última erupção foi em 24 de Maio de 2010. “Importa-se de repetir?”. “Não há problema”, garante, entre risos. “Sabemos sempre com antecedência quando é que ele vai entrar em actividade.”

7h30 da manhã

Encontro-me à porta do Parque Nacional do Rinjani com o resto do grupo que me vai acompanhar na subida. Mike e Stuart, irlandeses, 30 anos, amigos, desportistas, amantes de caminhadas, escaladas e alpinismo. Susan, australiana, 26 anos, professora de Educação Física, anda a dar volta ao mundo há seis meses. “Não a pé, mas quase”, segundo afirma. Elliot e Rose, casal de namorados franceses de 28 anos. Ela franzina, ele de cara pálida e ar imberbe. Por fim, Jonas, também francês amigo do casal, 30 anos, 1,98 de altura, 108 quilos de envergadura.

Depois das apresentações, Woggo incita-nos a lançar uns urros e cá vamos nós. Bastões em punho, botas “todo-o-terreno”. Para além de Woggo, com 42 anos e 23 de experiência como guia do Rinjani, acompanham-nos quatro carregadores. Corpos secos e franzinos, calçam apenas hawaianas e sobem ligeiros à nossa frente, em passo rápido, cigarro sempre na boca. Venho a saber mais tarde que cada um carrega em média 30 quilos às costas, entre panelas, tendas, sacos-cama, comida, água e até lenha. E ainda há quem se queixe da sua profissão.

Rinjani

11h00

Chegamos à primeira paragem. Até ao cimo da cratera hão de haver três. A subida até começou bem, terreno mais ao menos plano, grupo animado, Jonas por enquanto é o único ofegante. Woggo, conta-nos que faz este caminho umas três vezes por semana, um dia desce, outro sobe, outro descansa, mais ou menos 6 meses por mês. Um dos carregadores que nos acompanha é seu sogro. “Não pode ser guia, porque não fala inglês”, explica-nos.

Nesta primeira paragem servem-nos café e bolachinhas “para dar energia”. Pregado a uma árvore com um pequeno pionés está uma folha de papel com a fotografia de uma rapaz japonês. “Desaparecido”, em letras garrafais. Vendo os nossos olhares apreensivos, Woggo apressa-se a explicar que o jovem se lançou na subida ao Rinjani, sozinho, em Fevereiro passado. “ Quando as chuvas são muitas e há bastantes aluimentos de terras. Nos meses de chuva nunca fazemos subidas, é um perigo.” Olho para o céu e descanso, não se avista nem uma nuvem.

Rinjani

13h30

Chegamos à segunda paragem. Esbaforidos, cabelo colado à cara, respiração de cãozinho cansado. Tenho a sensação que estive as últimas duas horas e meia a subir a escadaria do Bom Jesus de Braga. Interminável. O terreno é tão inclinado que por vezes subimos o degrau seguinte de mãos e joelhos no chão. Jonas já desistiu. Há uma hora atrás, vermelho que nem um pimentão, anunciou que ia voltar para baixo. Rose olhou-o com inveja, Elliot lá a motivou a continuar. Woggo acaba por nos confessar que cerca de 40 por cento dos participantes normalmente desiste logo ao início. E eu que estava convencida que isto era um passeio. Pelos sites que se vêem na internet, é o que parece.

Para animar os ânimos, os carregadores que chegaram muito antes de nós, servem-nos o almoço. Um fantástico caril verde feito em wok numa fogueira improvisada. Aproveito a pausa para perguntar a Woggo se o caminho daqui para a frente será tão mau como na última hora. Responde-me que irá ser ainda pior. Optimista como sempre, penso: “não deve ter ter percebido a minha pergunta.”

Rinjani

16h00

Woggo tinha razão, o caminho veio sempre a piorar, cada vez mais inclinado. As paisagens são lindas, selva virgem, borboletas de mil cores, árvores milenares, sinto-me um autêntico Indiana Jones. Já a pequena Rose, coitada, sente-se uma autêntica lástima. Caiem-lhe algumas lágrimas, Elliot explica-nos que a namorada tem medo das alturas, que nunca imaginou que o desnível fosse tão grande. Woggo e os carregadores seguem imperturbáveis, em passo ginasticado. Depois da terceira paragem, já a 2 mil metros de altitude, o terreno muda, a terra fica mais arenosa, a selva é substituída por pedra, afinal não nos podemos esquecer que isto é um vulcão. Começam a surgir clareiras com vistas de sonho sobre a ilha de Lombok. Deixo de ser o Indiana Jones para passar a sentir-me a Heidi, só as (muitas) dores nas pernas me impossibilitam de saltitar montanha fora.

18h00

Chegamos ao topo da cratera. Parece impossível. Dez horas depois da partida cá estamos nós. Sujos, cansados, mas felizes. Inclusive Rose que limpa as lágrimas, pega na máquina fotográfica e começa a disparar em todas as direcções.

A vista é magnifica, estamos literalmente por cima das nuvens, tal qual avião, ao longe, avistam-se as pequenas ilhas Gili e a ilha de Bali e o pico do seu vulcão.

Na cratera, um lago de tons verdes azulados, céu e mais céu por tudo que é lado. Sento-me ao lado de Susan, Mike e Stuart, extasiados, ninguém fala, mais tarde havemos de admitir que nunca vimos um pôr-do-sol assim. Rose junta-se a nós e confessa que, afinal, a subida valeu a pena.

Comemos noodles com galinha e vegetais à beira da fogueira, a temperatura desce até aos 4 graus.  Mal acabamos de jantar retiramo-nos para as tendas, adormeço ainda antes das 20h00, a dar graças aos senhores carregadores por me terem transportado o saco-cama polar.

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6h30

O despertar é cedo. No Rinjani para além do pôr-do-sol, a não perder, é também o nascer. O céu tinge-se de rosa, as nuvens parecem algodão doce, o mar sereno ao fundo, lá tão em baixo. O único barulho que se ouve é o crepitar da lenha. Comem-se panquecas de banana, tostas mistas com tomate e café muito quente. O frio irá continuar até o sol ir alto.

Uma hora depois começamos a descida. Dez horas de sono deixaram-nos como novos. A todos menos ao Mike. Deixou os ténis fora da tenda, durante a noite, para arejarem e hoje quando acordou só tinha um deles, o outro algum animal levou. Resta-lhe descer de hawaianas. Ninguém disse que esta era uma empreitada fácil.

15h00

Fim da aventura. Pelo meio ainda temos direito a mais um almoço de luxo. Até abacaxi descascado em formato de carrossel nos servem. Chegamos à meta de pé mas com os joelhos virados do avesso e os músculos sofridos. Quem disse que as descidas são mais fáceis que as subidas, é porque nunca desceu. Mas compensa. Os nossos sorrisos são prova disso e nas fotos não se sentem dores.

Os meus ténis foram para o lixo, não resistiram, as recordações, essas nunca irão. Despedimo-nos de Woggo, que daí a dois dias tornará a subir com outro grupo. Sem um queixume. Rose admite: “Foi fantástico, mas claramente é preciso ter-se muita preparação física. ” , já refeito das agruras da véspera, espera-nos cá em baixo de cerveja em punho. E brinda connosco: “Viva, aos conquistadores do Rinjani.”

Rinjani

Como ir

A TAP em conjunto com a Qatar tem voos regulares de Lisboa para Bali com preços à volta dos 900 euros. De Bali há vários voos diários para Lombok com tarifas a partir dos 20 euros. A viagem entre as duas ilhas dura cerca de 15 minutos.

A Lombok Network é uma destas agência que organiza excursões ao Rinjani. O programa de dois dias e uma noite inclui transferes, guia, noite em tenda, um pequeno-almoço, dois almoços e um jantar, seguro, tenda, saco cama e colchão. Custa 135 por pessoa.

www.lombok-network.com/

Onde ficar

No Tugu Hotel, um art -hotel na costa nordeste de Lombok. É o sitio indicado para descansar uns dias antes e depois da subida ao vulcão. Tem praia privativa, 19 suites decoradas em estilo étnico, algumas delas com piscina, um campo de golfe com 18 buracos, um spa à beira-mar e até um templo hindu onde pode meditar.

Duplo a partir de 125 euros.

 

 

 

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