Viajar grávida – sim ou não?

Pois é, há muitos anos que viajo, já fiz centenas de viagens, mas estas últimas, de “baby on board” têm tido um saborzinho bem especial.

Das primeiras coisas que as pessoas que me conhecem disseram mal souberam que estava grávida, foi: “agora acabaram-se as viagens durante os tempos”. O que realmente não entendi e não quis entender. Sempre achei que gravidez não é doença e com mais ou menos cuidados, não é por si só incapacitante da maioria das coisas.

Graças a todos os santinhos, sou acompanhada por uma ginecologista/obstetra que sendo minha médica há muitos anos, sabe perfeitamente o estilo de vida que tenho e a profissão e hobbies que me ocupam o tempo.

Como tal, logo que apareci à sua frente com a “feliz noticia”, não fez coro com as minhas amigas e afins que me prognosticavam o fim das viagens e o exílio forçado.

Apenas se mostrou cautelosa e quando lhe disse que tinha em vista uma viagem de carro para Marrocos em Setembro (estavamos na altura em Junho), me fez recuar: “Pode viajar para a Europa e para os EUA, o resto esqueça, não vai querer de certeza ir parar a um hospital em África ou na Ásia”.

E apesar de gostar de aventura e ser do mais descontraído possivel em alguns campos, resolvi não brincar com a sorte e seguir o seu conselho. Já estive em alguns hospitais e centros de saúde em Moçambique e a recordação não é propriamente agradável. Além disso Àfrica e Ásia são à partida dois continentes onde as intoxicações alimentares, as águas contaminadas, os problemas de comidas diferentes a dar à volta à barriga, as picadas de insectos e outros bichos que tais, não devem tornar fácil a vida para uma grávida europeia, sem anti corpos suficientes para tal universo de bicharocos.

O facto de não poder tomar medicamentos caso me aconteça alguma coisa, também não ajuda.

Por isso lá comecei a puxar pela cabeça para onde é que poderia ir durante “o estado de graça”. Sendo que viagens de avião muito longas também não são o mais aconselhável – se por vezes os pés incham até ao limite do impossivel durante uma viagem de avião, quando não se está grávido, imagine se quando se está – e que as viagens longas de carro também não o são…  cartas lançadas, saiu a Croácia como cabeça de lista.

Viagem de avião relativamente curta – cerca de 4 horas – cidades pequenas para evitar grandes esticões, dias de descanso e mergulhos intercalados com dias de cultura, boa comida, zero de bichos estranhos e parasitas tropicais, nada de águas contaminadas, bons serviços médicos.

E foi assim que em Setembro, já com 5 meses de gestação, para lá abalei durante 10 dias. E correu tudo muito bem e apesar de me sentir mais cansada que o normal, deu para aproveitar bastante. Muito mesmo. Quase, quase parecia uma pessoa normal 😉

Eu na Croácia

Eu na Croácia

Tive apenas pena de não poder provar as grandes travessas de mexihões que me passaram sistemáticamente à frente, nem os vinhos maravilhosos que a Croácia apregoa ter e que o F. constatou que sim.

Entusiasmada com a viagem à Croácia, e com tudo a correr bem com esta pequenina que ando para aqui a fabricar,  resolvi continuar a fazer ouvidos moucos aos cataclismos apregoados por muitos e há 15 dias fui passar um fim de semana prolongado a Sevilha, tal como contei por aqui.

E desta vez fui de carro. Para lá resolvemos partir a viagem em dois e sair de Lisboa ao final do dia, dormir no Algarve e arrancar para Sevilha no dia seguinte de manhã. Para cá, resolvemos fazer tudo de uma vez só e até fui eu que vim a conduzir a viagem toda. Isto já com  5 meses e meio no bucho.

Foi cansativo, sem dúvida, não tanto a viagem de carro, mas mais os dias por lá. Mas nada que nao se faça – não tenho muita paciência para a grávida lamechas para quem tudo é um custo imenso. Eu não carrego um mundo às costas, eu carrego um bebé na barriga, o que por enquanto e até prova em contrário, até tem sido bem agradável.

Tentei nas viagens de carro beber muita água e parar mais vezes do que seria normal. Em Sevilha, o calor foi um bocadinho incomodativo, mas também nada demais. Tentei ir parando mais vezes do que o normal, em cafés e tasquinhas e manter me sempre hidratada. E correu tudo muito bem.

E ainda por cima ficará para sempre a recordação que foi em terra de nuestros hermanos que aqui a bebé menina resolveu presentear me com os primeiros pontapés… no dia da Implantação da República, seja lá o que isso quererá dizer….

Eu em Sevilha

Eu em Sevilha

Nao sei se farei mais alguma viagem até ao fim da gravidez, talvez uns fins de semana fora, mas se calhar mais nada do que isso. Mais por falta de tempo do que de vontade. Claro que o facto de eu continuar a viajar sem problemas tem muito haver com o facto de estar habituada a fazer exercicio fisico – continuo a fazer as minhas caminhadas de 5/8 quilómetros por dia – , ter uma barriga minima e ter engordado até à data apenas dois quilos, o que faz com que continue a sentir me confortável na maioria das posições, não me arraste penosamente, não tenha problemas de retenções de líquidos, dores nas costas e afins.

Também contribui para o positivismo geral ter  o acompanhamento de uma médica que não tem macaquinhos na cabeça e que só trata uma grávida como doente quando ela realmente o está.

Há que aproveitar esta fase, é uma altura gira, é giro ter recordações da gravidez em passeio, tiram-se imensas fotos para mais tarde recordar e além disso ganham-se energias positivas para os tempos que aí vêem, esses sim, que segundo consta não irão deixar grandes margens para manobras nos primeiros meses.

 

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Blog Comments

Bien, bien Catarina!
Não podia estar mais de acordo contigo 🙂
Adoro os teus artigos, as tuas fotos, os teus textos, tudo!
Um grande, grande beijinho

Obrigada Julita, tão querida, pronto para cá fico eu a babar me ;-). Muitos bjs

Olá Catarina,
belo post e excelente atitude.

O meu trabalho também me obriga a viajar frequentemente, essencialmente para a costa oeste dos estados unidos. Só comecei a sossegar aos 8 meses por indicação médica expressa (e de facto o bebé nasceu uma semana depois, induzido, mas isso teve a ver com o facto de ser uma gravidez de risco com fortes possibilidades de pré-eclâmpsia – que se verificou).

Segui todas as indicações médicas à risca, viajei com meias de descanso, tomei aspirina cartia antes das viagens, parecia maluquinha a andar de um lado para o outro e a fazer streching nas viagens de 8 e 10 horas…

E nunca tive problema nenhum. Palmilhei londres e são francisco, semanas a fio, sem qualquer problema. Claro que caía na cama e dormia profundamente, mas com as indicações certas e a atitude responsável, só paramos com o bebé cá fora. Mas aí já não custa nada ;))

Muitas felicidades e continuação de boas viagens e excelente baby-making 😉

Obrigada Ana, que bom ver que há mais pessoas sem “bichinhos” na cabeça que acham que tudo é uma complicação e que a gravidez é uma altura fantástica para se queixarem tudo e mais alguma coisa e fazerem das minimas coisas um drama ;-).
Um beijinho

Olá Catarina

Gostei muito de ler o teu post. E achei piada que a viagem que fiz quando estava gravida da pikitim também foi à Croácia, e eu estava com quase cinco meses. Percebo os receios dos pediatras e dos obstetras, de facto há muitos hospitais que não gostaríamos nunca de conhecer. mas, em tudo, é preciso bom senso. não nos podemos deixar levar por fobias, nem ter a ilusão que conseguimos controlar tudo. Temos, apenas, de medir os riscos. Boa sorte nessa tua grande viagem! 🙂 (a maternidade é, e será sempre, a maior de todas! )

Obrigada Luisa, realmente acho que com cuidado tudo se faz… amanhã lá vou eu para Salamanca 😉 infelizmente o belo do jamon serrano terá que me passar ao ldo, mas é por uma boa causa 😉 bjs

Olá,

Gostei do seu report!!!

Sou um pouco parecida consigo, tanto que é que tenho viagem marcada, uma tour pela Europa de carro por 18 dias, arrancando de Lisboa e ir até Itália com várias (muitas) paragens, a minha questão é que estou a tentar engravidar, e estando a viagem marcada para dia 11 de setembro, quero saber se entretanto engravidar, daqui até lá, posso estar grávida, supondo claro, de 4 semanas talvez o máximo, o que preciso de saber, é se devo adiar a tentativa de engravidar até fazer a viagem, ou se não há problema nenhum em viajar de 4 semanas.
Sempre fui muito ativa, e com bons hábitos alimentares, treinos e caminhadas, com isto conto ter uma boa preparação, para ser uma grávida saudável, e energética.

Aguardo o seu comentário.

Desde já agradeço a sua atenção.

Obrigada.

Cpts
Raquel Carvalho

Olá raquel não sou médica, mas acho que sendo uma gravidez normal, sem problemas e na altura tão recente, não haverá quaisquer problemas em viajar. As estradas da Europa são em geral muito boas, nãõ vai andar aos tombos ;-). Aliás acho que não faz nada bem pôr a sua vida em stand by enquanto tenta engravidar, pois a ansiedade irá aumentar bastante. Vá gozando o dia -a-dia e quando acontecer fantástico. Boas viagens, um bjo

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