4º dia – Do Nepal para o Butão

Nunca vi um aeroporto como o de Kathmandu, é impressionante,  só se veêm homens nepaleses jovens, muitos, muitos, todos franzinos, com grandes malões, emigrantes. Muitos. Sozinhos quase todos. Sem familia, sem um amigo. Partem para destinos de nome impronuncaveis, muitos nos Emirados Àrabes. Não se vê praticamente uma única mulher nepalesa nas portas de embarque. Que impressão….

O voo para o Butão vai acima das nuvens mas abaixo de alguns picos nevados dos Himalaias. De quando em quando, o comandante vai enumerando as montanhas por onde passamos. Um lugar do lado esquerdo do avião é imprescindível para um voo perfeitamente cénico.

 

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Antes de aterrarmos aproveito para ler um pouco sobre o país. Em rápidas pinceladas, o Butao é um país criado por volta do século pelo monge Shabdrung Ngawang Namgyal, vindo do Tibete que resolveu unificar numa só nação uma mão cheia de feudos que se distribuíam por esta região. Acabaram as guerrilhas e instituiu-se o budismo como religião unificadora, bem como um traje nacional, que continua a ser usado diariamente por grande parte da população.

Tem apenas 800 mil habitantes, 50 mil dos quais vivem em Timphu, a capital. O resto distribui-se entre vales e montanhas por pequenas vilas e aldeias. As casas mantém-se todas de arquitectura tradicional com dois ou três andares e janelas e portas lindas de madeira trabalhada.
Desde o início do século XX que se vive em monarquia, hoje em dia monarquia parlamentar. Até 1974 o país manteve-se fechado ao turismo, os Butaneses podiam sair, mas os estrangeiros não podiam entrar. Hoje em dia mantém -e um dos países menos visitados do mundo, com cerca de 40 mil turistas por ano.
Até há 10 anos não havia televisão no país, 50 por cento das mulheres e 40 por cento dos homens são analfabetos e 70 por cento da população ainda vive da agricultura. Uma agricultura acima de tudo de subsistência. O resto dos produtos vêm todos da Índia, que apoia o Butão com dinheiro, construção de infra-estruturas, mão-de-obra, etc….
Apesar da grande iletracia, hoje em dia a escola  é gratuita pelo menos até  ao 10º ano e as aulas são dadas em inglês.
A região budista é uma parte muito importante da vida nacional, cerca de 10 por cento da população é monge. Muitos entram para os mosteiros mal começam a falar, pois os pais viram na sua carta astral que nasceu com essa vocação. Aliás quando uma criança nasce é prática comum fazer o seu mapa astrólogico e pesquisar também sobre as suas vidas passadas. A religião budista acredita na reencarnação.
Como S.T. , o nosso guia, irá referir várias vezes ao longo da viagem, ” este é um país criado à volta de várias crenças, mitos e lendas” mas um país feliz, tantas vezes denominado como o ultimo Shangri La.

Mas vamos lá aterrar e começar a aventura. A aterragem em Paro é também por si só uma experiência, o avião desce pelo meio das montanhas, passa-se por alguns “dzongs” – construção tipica dos reinos budistas dos Himalaias  que  tem funções simultâneas de centro religioso, militar, burocrático e administrativo.

 

No aeroporto, os funcionários só nos perguntam se trazemos tabaco – é proibido fumar em locais públicos e os estrangeiros só podem trazer um número limitado de cigarros.

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A dar-nos as boas vindas um cartaz com o casal real abracadinho.

 

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S.T., o nosso guia, espera nos à porta do aeroporto com duas echarpes brancas, adereço com que os Butaneses costumam presentear as pessoas importantes.

Seguimos directamente de Paro para Timphu, a capital, ou como S.T. diz, “ainda não é uma cidade, mas esperamos que algum dia seja, por isso já lhe chamamos cidade”.

 

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O caminho, cerca de um hora, é feito pela única estrada totalmente eafaltada do país.
Curva, contra curva, pelas montanhas até ao vale. À beira da estrada caminham crianças das escolas locais, mulheres, homens, quase todos vestidos com o traje nacional.

 


Chegados a Thimphu,   a primeira paragem é na Memorial Chorten, uma “stupa” construída em 1974 pelo 3º Rei do Butao.

 

Aqui vêem-se as rodas de oração, uns grandes e pesados cilindros gravados de orações que se giram nos sentidos do ponteiros do relógio. Esta “stupa” é um dos locais mais importantes da cidade, aliás como a o budismo é na vida dos butaneses. Mais tarde iremos perceber como o verde das montanhas está pontilhado pelo colorido de milhares e milhares de bandeiras de oração a esvoaçar ao vento.

De seguida vamos visitar o Dzong Tashichho, sede do governo butanês desde 1952.   Os Dzongs são antigas fortificações com carácter religioso e militar. Hoje em dia cada vez menos militar e mais religioso. ” Nao temos praticamente exército porque somos muito pacíficos e além disso se as nações que nos rodeiam – China e Índia –  se nos resolvessem invadir, não havia exército que conseguisse evitá-lo”, explica S.T.

 

 

Junto a este Dzong fica também o pequeno palácio real, escondido no meio da folhagem . O rei é muito simples, jovem e bonito, desloca-se de carro pelo país, pelas mesmas estradas turtosas que o mais comum dos mortais, mas quando está em casa também tem direito à sua privacidade.

 

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O primeiro dia terminou com um jantar no hotel: tempura de espargos, caril de frango e “Ema”, o prato mais tradicional do Butão: malaguetas com molho de queijo, uma maravilha principalmente para quem gosta de picante, como é óbvio.  Aliás para quem gosta de sabores pouco quentes, a comida butanesa pode ser um drama. Eles usam e abusam dos chillies, todas as casas tradicionais têm um sótão arejado para estes secarem 😉

 

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